Opinião | Segurança no Brasil e no Japão

Por: Giuliano Peccilli

Falar de segurança significa avaliar a confiabilidade e tranqüilidade que um lugar ou situação lhe proporciona e, nesse caso, um dos pilares reconhecidos mundialmente e que sustentam o Japão é a segurança. Amigos e conhecidos associam essa segurança em poder dormir com a porta aberta, ou poder andar com grandes quantidades de dinheiro sem ter o risco de ser assaltado, entretanto, o país tem uma estrutura muito maior que “apenas” a sensação de Segurança.

Na realidade, o Japão é um país que tem problemas como qualquer outro, porém ele é muito mais voltado a causas naturais, como terremotos, do que a crimes propriamente ditos. Numa pesquisa realizada em 2006, cerca de 70% dos japoneses consideravam o país perigoso, porém seus motivos por essa insegurança eram associados a nevascas, terremotos e erupções vulcânicas, entre outras causas naturais.

Outros crimes, como ladrões de peças íntimas femininas, acabaram tornando uma caricatura da sociedade japonesa. Esse tipo de crime, que acontece até hoje, e que condicionou as japonesas a terem um varal dentro de suas casas para evitar esse tipo de assalto ocorra e que suas peças acabem sendo revendidos em Sex Shops como um fetiche para homens. No Brasil essa notícia causa estranhamento devido a esse crime não ser comum.

O que realmente assusta no Japão são os suicídios, sendo que a média por lá é que a cada 20 minutos acontecer um novo suicídio. Os números de suicídios aumentaram de 2009 pra cá, com a Crise mundial, tendo uma média de 30 mil suicídios anuais no país.

O suicídio muitas vezes é levado pelo fracasso em um vestibular, ou com a perda de um emprego. Para se ter uma idéia da situação, a Organização Mundial da Saúde concluiu que o Japão tem uma média de a cada 100 mil pessoas, 24 se suicidarem, enquanto o Brasil tem “apenas” 5 pessoas para as mesmas 100 mil.

Isso levou o país a desenvolver portas anti-suicídio nos trens e também uma segurança maior em pontos turísticos, como no Monte Fuji, onde acontece um grande número de suicídios. Devido a essa situação, foi preciso desenvolver investigações sobre o auxilio a esses suicidas. Descobriram uma rede de informações na internet, que pessoas aprendiam formas de suicídio, como por exemplo, o desenvolvimento de um gás letal com materiais que podem ser encontrados em qualquer supermercado.

Os postos comunitários japoneses serviram de inspiração para o modelo brasileiro, sendo que estes foram baseado em quatro pontos: Preservação de crimes na comunidade, prestação de serviço com rondas policiais, participação do público no planejamento e supervisão das operações da polícia e a mudança de responsabilidade do comando para as fileiras mais baixas da corporação. Mesmo que os problemas de um país para o outro sejam diferentes, o modelo de posto comunitário brasileiro também funciona baseado nesses quatro pontos.

Numa viagem em que fui ao Japão, acabei perdendo o passaporte, entre as cidades de Beppu e Hiroshima. Dando meu depoimento sobre o ocorrido, os policiais não só mantiveram a minha tranqüilidade, como também queriam saber coisas do Brasil, sempre associando a cidade de São Paulo, com o time de futebol que já jogou por lá. Em 24 horas, numa distância de mais de 400 quilômetros, o passaporte foi encontrado e a polícia nos informou sobre onde retirar-lo, mostrando que não só tem uma polícia interligada, como também que a maioria das coisas que se perde lá, se acha.

Alem disso, muitas pessoas perguntaram sobre a perda do passaporte, desde funcionários de metrô a funcionários de lojas próximas, com um cuidado especial que faz você não só se sentir “Bem recebido” e respeitado pelo o país.

No Brasil, o episódio poderia ter acabado de uma forma totalmente diferente, pois muitas vezes objetos perdidos ficam no local e não são entregues a polícia. Outro fator é que seu passaporte poderia ter caído nas mãos erradas, o que acarretaria em problemas no futuro.

A segurança de um país não está na polícia, mas na sociedade que se preocupa com o lugar em que vive. O Brasil e o Japão são países distintos, todavia, não é só da polícia que devemos esperar a segurança, mas de nós mesmo através de uma reeducação social. A segurança só existe por parte da polícia para manter a ordem que já existe e foi criada pelos seus habitantes.

Texto publicado originalmente no jornal Semanário da Zona Norte

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Giuliano Peccilli
Giuliano Peccillihttp://www.jwave.com.br
Editor do JWave, Podcaster e Gamer nas horas vagas. Também trabalhou na Anime Do, Anime Pró, Neo Tokyo e Nintendo World.

1 COMENTÁRIO

  1. Já comentei no Twitter, mas não podia deixar de comentar por aqui também né? A verdade é realmente essa, a educação é o que faz os países serem tão diferentes, o problema do Brasil é o maldito jeitinho brasileiro, nego acha a coisa mais normal do mundo passar trote para policia ou bombeiros e acha ainda mais normal encontrar uma carteira na rua, roubar a grana (sim, isso é roubo) e devolver (isso quando devolve) sempre avisando que a carteira já estava sem dinheiro.
    E os problemas não ficam do lado da população não né, os policias também tem séries problemas, falta de treinamento e equipamento, policiais que não estão preparados psicologicamente para enfrentar o dia a dia do serviço e principalmente os que acham que ficam superiores quando colocam as fardas e que podem qualquer coisa.
    Tudo isso tem uma mesma raiz e uma mesma solução: Educação, melhorando isso, melhorasse tudo aos poucos.
    Muito bom mesmo o texto, muito bem escrito e informativo. Parabéns!

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