Vivendo no Japão #14: Vamos falar sobre Light Novel!

37769_417187105009585_1377917855_nE aí! Batendo o ponto aqui essa semana, dessa vez para falar de um tema referente à minha pesquisa: Light Novel (a partir daqui LN). Nós sabemos que Suzumiya Haruhi e mais recentemente Sword Art Online foram estopins para que os olhos da “comunidade otaku” (fora do Japão), se voltassem para as LNs. Também no Japão, Suzumiya Haruhi no Yuuutsu é considerado um marco no mercado editorial, sendo considerado responsável pelo boom do gênero. Já no Brasil, entre os fãs de animê muitas pessoas nem sabem que uma grande parte das obras atuais são adaptações de LN e não de mangás, e ainda há muita confusão, mesmo entre àqueles que já estão familiarizados com o termo. Se a definição fosse tão simples eu não seria necessário mestrandos, doutorandos e demais pesquisadores dedicando anos de estudos sobre o assunto, mas vou tentar traçar algumas considerações iniciais e questionamentos que eu venho me deparando neste quase um ano de pesquisa.

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Uma tradução literal do termo Light Novel é Romance Leve, e para entendê-lo primeiramente, acho necessário explicitar o que é um Romance (em inglês Novel – não confundir com novela). MUITA gente não entende o significado de Romance, e acaba misturando com outros tipos de classificação (como Romantismo, comédia-romântica, etc), e entendendo como “história de amor”. Pois aqui vai uma revelação: isso não poderia estar mais errado. Romance é um formato, que consiste de uma obra em prosa de longa duração (em oposição à conto, que é uma obra em prosa de curta duração). Existem diversos elementos e técnicas que se aplicam a esse formato, mas o ponto principal aqui é entender que um romance não é necessariamente uma história de amor. Crepúsculo é um romance, assim como Harry Potter, assim como Dom Casmurro e Frankenstein (Em contraposição, há obras de poesia de longa duração, como os poemas épicos).  O que então é uma Light Novel?

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No nível mais inicial da pesquisa sobre o gênero, nos deparamos com uma série de características usadas para defini-lo: Público-alvo juvenil (indo do algo entre o infanto-juvenil e o jovem-adulto); Ilustrações em estilo mangá na capa e em alguns trechos do texto; Estilo de escrita mais simples, com frases e parágrafos curtos, mais diálogos e menos ideogramas; e Personagens fascinantes, que são o foco da narrativa, ao invés dos acontecimentos em si. Apesar dessas características parecerem definir bem o gênero, quando analisadas com mais cautela, são muito genéricas. Público-alvo não diz muito sobre o leitor real, e é um elemento a ser tratado com cuidado durante o processo de escrita, especialmente quando se trata de crianças e adolescentes, pois não se deve menosprezar suas capacidades. Escrita simples também é um fator questionável, pois às vezes é possível tratar assuntos bastante complexos por meio de uma escrita simples, ou falar alfo extremamente vazio por meio de uma escrita rebuscada. As ilustrações, apesar de serem uma das características predominantes, ainda assim há que se distinguir de outros livros ilustrados, histórias em quadrinhos e ainda romances que tem na capa personagens em estilo mangá. E sobre personagens fascinantes, este talvez seja o elemento mais complexo de ser examinado, afinal, não há romances cujo foco recai sobre as personagens mais que sobre as ações?

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O público “otaku” brasileiro tem uma visão um pouco confusa do gênero. Ao relacionar o universo dos mangás e animês à LN acabam por colocar “no mesmo saco”, coisas diferentes. Por exemplo, um romance baseado numa série de mangá, geralmente não é publicado como LN e sim como romantização. Além disso, não é impossível que um animê seja baseado em um romance que não é LN. Não só um gênero, LN define um formato editorial. Meu grande interesse acadêmico pelo tema surgiu justamente quando eu entrei numa livraria no Japão pela primeira vez, e me deparei com uma prateleira rotulada “Light Novel”, separando de “Literatura Geral” e de “Romances Históricos”. Devo acrescentar que obras que eu jurava que estariam na sessão de Light Novel, como romances baseados no universo de Death Note e o livro que originou o animê Another, estava na parte de “Literatura Geral”. Foi aí que comecei pesquisar um pouco mais e adentrar o gênero. Descobrindo que há inúmeros casos de LNs que são reeditadas no formato Romance (como Gosick), assim como romances reeditados no formato LN (é o caso de Another). Além disso, romances BL (Boys Love) também são separados em outra categoria. Sendo assim, quase todas as obras publicadas no Brasil consideradas como Light Novels (como os romances de Gravitation, de Saint Seiya e Death Note), na verdade não o são. Não sei dizer sobre Another, pois não vi se a versão brasileira é baseada na edição romance ou LN, mas pela capa que eu havia visto, é romance. Por outro lado existem LNs baseadas em jogos, como Clannad e Steins;Gate, ou animês, como Gundam e Code Geass. Estas sim, publicadas no formato e dispostas na mesma prateleira que as demais.

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Tendo lido obras tão diversas, como Durarara, Suzumiya Haruhi, Kino no Tabi, Gosick e Sword Art Online (a maioria deles apenas um volume, só Gosick que li mais) eu tenho uma grande dificuldade de enxergar uma característica que as conecte como gênero. E este é um dos principais objetivos da minha pesquisa de mestrado. Esse texto veio mais para colocar questões do que para esclarecer. Mas ao menos espero ter deixado claro o ponto que nem todo livro que tenha relação com uma série de animê é necessariamente uma LN. Quero saber de vocês, o que vocês conhecem do gênero? Que características vocês enxergam de predominantes? Vamos criar um debate aqui nos comentários, pois acredito que além de contribuir melhor para a compreensão geral, ainda pode me dar ideias para encaminhar minha pesquisa. Obviamente, citarei devidamente na minha tese final as pessoas envolvidas aqui. E quem tiver mais interesse acadêmico, pode entrar em contato direto comigo que ficarei feliz de poder conversar sobre.

PS. Minha obsessão essa semana é a nova coletânea da Koda Kumi: Winter of Love. Além de trazer todas as baladas de inverno mais maravilhosas para deixar a gente no clima de romance (aqui sim, com sentido de relação amorosa) pro Valentine’s Day, ainda tem 2 inéditas que são amor puro. On and On é uma msk bem simples e repetitiva, mas daquelas pra se acabar de cantar, e No Me Without You é uma balada R&B que penetra fundo na alma. Como sempre, Koda tornando o mundo mais belo com sua voz.

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Rafael Vinícius Martins
Rafael Vinícius Martinshttps://daisukeinkyoto.wordpress.com/
Jovem otaku/geek/nerd, mestrando em Literatura Comparada na Universidade de Kyushu, tendo como foco culturas de massa (animê, mangá, light novel). Membro do clube de acapella HarmoQ, e viciado em livrarias e lojas de produtos de animê. Facebook: https://www.facebook.com/daisuke.h0j0 Instagram: @daisuke_h0j0

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