Vivendo no Japão #17: Mudança

_20160408_212015Olá!!
Na semana passada eu mencionei que estava de casa nova, e as pessoas, quando eu mencionei minha mudança, me fizeram várias perguntas: Por que eu saí do dormitório? Foi difícil encontrar casa? Como funciona? Então hoje eu resolvi escrever um pequeno relato sobre todo esse processo. Se você tem interesse em saber sobre os procedimentos de aluguel de uma casa, eu já aviso de antemão, que meu processo foi um pouco diferente do “normal”, então talvez este texto não seja tão útil.

Pois bem, como bolsista pelo MEXT, nós geralmente recebemos uma permissão de estadia no dormitório da Universidade por um ano. Como cheguei aqui no começo de abril do ano passado, minha permissão ia até 23 de março deste ano. No semestre anterior eu havia recebido um email a respeito da abertura de inscrições para os interessados em estender a estadia. Porém, desta vez, conforme o meu prazo foi se aproximando eu fui “cobrar” a secretaria por uma resposta a respeito da abertura dessas inscrições e a resposta era um pouco desanimadora (pra não dizer desesperadora): eles não saberiam se abririam vagas,pois devido à transferência de uma faculdade para este campus, haveriam um grande número de novos alunos, e me sugeriram considerar procurar um apartamento por segurança. Eu adiei até o último segundo, mas no final de janeiro, com a falta de resposta, resolvi começar a correr atrás disso.

Meu grande receio é por já ter sido alertado anteriormente da grande burocracia que envolve o contrato de aluguel. Você precisa encontrar um fiador, pagar uma porção de taxas, muitas vezes bastante caras (como a luva e o caução), além de mobiliar a casa. Eu cheguei a procurar por algumas opções de dormitórios privados, que pareciam ser a melhor opção, pois o preço não diferia muito do que gastaria num aluguel de uma casa, mas teria toda a mobília, internet e suporte. Porém, já estava um pouco cansado de viver sob regras de alojamentos. Felizmente, neste mesmo período, a empresa que presta serviço para a universidade CO-OP (que toma conta dos restaurantes, livrarias e algumas lojas de conveniência dentro do campus) estava abrindo um serviço de suporte de imobiliária, ou seja, eles atuariam como mediadores, oferecendo diversas opções de apartamentos, e intercedendo no processo do contrato, tudo muito funcional, para auxiliar os estudantes.

Enquanto eu visitava as diversas opções oferecidas, a secretaria enviou o email abrindo para inscrições para extensão da estadia no alojamento, o que me deixou num grande limbo de dúvida. Ainda nesse período conheci um rapaz que estava na mesma situação que eu, e começamos a cogitar a hipótese de dividirmos o aluguel de um apartamento. Quando fui na secretaria tirar dúvidas sobre a possibilidade de extensão, levei outro banho de água fria, me disseram que havia a possibilidade do meu pedido ser negado, e eu teria um tempo de menos de duas semanas para me mudar, portanto recomendaram que eu procurasse um apartamento de antemão, no caso do meu pedido ser negado.

Como ansiedade é meu sobrenome, eu logo entrei em contato com aquele meu amigo, e resolvemos dar uma olhada nas possibilidades de apartamento com dois quartos. No dia seguinte fomos à esse escritório da CO-OP ver as opções. Logo percebemos que aparamentos com dois quartos eram bastante limitados, e quando achamos um, com um preço interessante ficamos bastante empolgados. Logo, recebemos a confirmação de que haviam possibilidade de morar duas pessoas (porque também tem isso, é necessário pedir permissão do dono para dividir o aluguel com outra pessoa). Ao chegarmos na casa, a fachada deu uma pequena má impressão, mas ao entrar ficamos encantados. Super espaçosa (para padrões japoneses), com diversas mobílias (como geladeira, microondas, máquina de lavar, mesa, cadeiras e sofá) e ainda um dos quartos em estilo japonês. Decidimos ir para casa “dormir sobre a ideia”, mas a empolgação com a casa, e com a possibilidade de morarmos junto (vai sentindo pra onde essa história tá indo…), nos levou a, no dia seguinte, decidir abandonar a ideia de ficar no alojamento e fomos assinar o contrato. Dois dias após termos assinado o contrato e resolvido ser colegas de quarto, nós mudamos de ideia e resolvemos ser namorados. E assim começou minha vida de semi-casado.

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Assinamos o contrato na primeira semana de fevereiro, e nos mudamos no começo de março. Durante este período a própria CO-OP se encarregou de contatar a companhia de luz, nos guiou sobre como entrar em contato com a empresa de gás e de água, para contratar os serviços (para quem não sabe, o aquecimento dos chuveiros e pias – sim, a maioria das torneiras tem água quente – é feita por meio de gás encanado – o fogão, por outro lado, está sendo cada vez mais sendo substituído por bocas elétricas, que não necessitam de gás), e ainda nos ajudou dando dicas de serviços de internet disponíveis, assim como tem nos auxiliado quando temos um problema. Foi uma tarefa hercúlea carregar todos os meus pertences para a nova casa, que fica bem perto da estação (ou seja, 20 minutos de distância do campus – de bicicleta), mas finalmente nos mudamos, compramos os itens que ainda faltavam, como futons, fogão e forno elétrico, estante para os meus livros e mangás,etc.

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No começo havia um misto de empolgação e receio de morar com meu namorado dormir num futon no quarto tradicional japonês, mas apesar do leve desconforto algumas vezes, ele é bastante prático, e sempre dá aquela sensação de estar vivendo a cultura japonesa de forma bastante intensa. Eu só fui me sentir devidamente instalado quando a empresa de internet veio colocar o cabeamento e finalmente pudemos estar novamente conectados. Aí sim me senti seguro para colar meus pôsteres e chamar este lar de meu. Já completei um mês morando aqui, e posso dizer que é excelente estar mais próximo da área urbana. Saber que se eu sentir fome de madrugada posso descer as escadas e comer um gyudon no restaurante 24hrs diante da minha casa, ou ir pro karaokê que fica ao lado do restaurante, a qualquer hora, ou ainda poder fazer compras no mercado sem ter que pedalar por 20 minutos de ida e 20 de volta. Eu sinto que quando começar a rotina das aulas (na próxima semana), vou ficar um pouco preguiçoso de ter que pedalar esse percurso para ir pra aula, mas é um esforço que vale a pena.

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PS. Como bem sabem os assistidores de animês, a nova temporada está começando nesta semana, e minha obsessão atual é este animê que “eu mal conheço mas já considero pacas”: Joker Game. Situado na Era Showa, a história gira em torno de uma academia de treinamento de espiões de guerra. O primeiro episódio traz uma tensão que deve ser trabalhada ao longo do animê todo, que é o questionamento dos valores tradicionais do Japão e do ultranacionalismo cego que sustentou o totalitarismo e levou o país à guerra e à derrota e todas as consequências desastrosas que vieram com ela. O protagonista é um japonês cheio de “valores” impregnados pela ideologia da subserviência e integridade samurai, e ele começa a aprender na pele que essa integridade não rege as classes mais altas do poder, que não se importam de usar de métodos baixos e corruptos para estabelecer sua dominação política. Claro que essa é a impressão que tive ao assistir apenas o primeiro episódio, e pode ser que a história se desenvolva em outra direção. Seja como for estou empolgado com a atmosfera século XX e o desenvolvimento mais “inteligente, que me lembra bastante Bacanno, e me faz ter esperanças de que esse é um daqueles animês que você pode aprender muito sobre história (e sobre política), enquanto se diverte. FikDik de nada68318509gw1ezbp86odahj20m80vtn6g

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Rafael Vinícius Martins
Rafael Vinícius Martinshttps://daisukeinkyoto.wordpress.com/
Jovem otaku/geek/nerd, mestrando em Literatura Comparada na Universidade de Kyushu, tendo como foco culturas de massa (animê, mangá, light novel). Membro do clube de acapella HarmoQ, e viciado em livrarias e lojas de produtos de animê. Facebook: https://www.facebook.com/daisuke.h0j0 Instagram: @daisuke_h0j0

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