Review | Orange (Completo)

JMangá POST 2016 75

Finalmente o quinto volume de Orange chegou às bancas brasileiras. Mesmo sendo um mangá curtinho e que não faz tanto tempo assim que resenhamos por aqui, decidi fazer o “sacrifício” de ler a obra toda pela… décima (?!) vez e dividir com todos vocês o que essa obra significou para mim. Venham comigo!!

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A história

A essa altura, todo mundo já sabe do que Orange fala: é a história de um grupo de amigos colegiais protagonizado pela meiga e insegura Naho Takamiya, que recebe uma carta do eu dela de dez anos no futuro. Nessa carta continham vários indícios de sua veracidade, como seu atraso para a aula pela primeira vez e a chegada de um aluno transferido, o sério Kakeru Naruse.

Naho não podia imaginar que o motivo para ter recebido essa carta era, na verdade, um pedido de socorro: dez anos no futuro, Kakeru não está mais entre eles, pois faleceu em um acidente antes de completar 18 anos. Com a ajuda de seus amigos ela agarra a difícil missão de não apenas evitar o acidente, mas de salvar o coração de Kakeru. E é aí que Orange te mostra que não é apenas um mangá shoujo fofinho qualquer: longe disso.

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Mergulhando um pouco mais a fundo

Todo mundo pensa que Orange vai seguir a premissa de uns 900 mangás que você lê por aí, só que com uma pitada do “fantástico”, que seria o elemento surpresa da trama, a carta do futuro. Você se irrita com a timidez excessiva da Naho em alguns momentos e se preocupa com o fato de que a culpa que Kakeru carrega por acreditar ter sido o responsável pelo suicídio de sua mãe no primeiro dia de aula seja o que irá definir se o objetivo de salvá-lo será cumprido ou não. Nesse ponto, além da carta, um outro elemento surpresa (meu favorito, por sinal) será decisivo: Hiroto Suwa.

Suwa, no futuro, realizou seu sonho de casar-se com Naho, de quem ele sempre gostou e cuidou. É o amigo que todo mundo gostaria de ter, maduro até demais para a idade e que tem uma participação decisiva: mesmo com toda a dor que isso podia lhe infligir, ele não pensa duas vezes e resolve unir Naho e Kakeru. Logo no segundo volume, descobrimos que Suwa também recebeu a carta e é aí que entendemos que tipo de pessoa ele é. Mesmo sabendo que poderia não ficar com a pessoa que ele ama, ele desiste de sua própria felicidade em favor daqueles por quem zela de longe.

Mesmo os outros três amigos de Naho não são meros coadjuvantes; eles também receberam a carta e estão lutando a seu modo para fazer com que Kakeru não desista. A espevitada Azu, o estudioso Hagita e a valente Takako (que ama Suwa em segredo) deixam suas marcas na história de maneira sublime, como podemos ver no emocionante capítulo da corrida de revezamento da gincana escolar. Já li muitos mangás que sempre trazem alguma revelação na gincana, mas este me pegou de jeito. O recado que eles “entregam” a Kakeru junto com o bastão é algo que não vou esquecer “mesmo daqui a dez anos”.

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A aflição da culpa

Kakeru carrega consigo a vontade de morrer mesmo tendo pessoas com as quais se importa e uma menina de quem gosta porque não consegue se livrar da culpa por não ter acompanhando sua mãe ao hospital na volta do primeiro dia de aula.

Ele estava feliz por ter conseguido se enturmar e encontrar amigos, que poderiam ajudá-lo a esquecer o sofrimento do bullying da escola antiga. Ninguém pensa que não vai nunca mais poder pedir desculpas aos pais, aos amigos ou a alguém especial. Todos nós agimos, muitas vezes, de forma egoísta e ignoramos sinais porque imaginamos que sempre haverá o amanhã. Kakeru nunca entendeu que o egoísmo de sua mãe era o jeito torto dela protegê-lo do sofrimento, e ela não imaginava que isso só o fazia sofrer ainda mais. Talvez tenha sido egoísta ao pensar que “saindo de cena” poderia libertar o filho e nem cogitou ter uma conversa olho no olho.

Durante a história, o vai e vem do futuro para o presente nos leva a pensar que é possível definir o futuro com pequenas atitudes, mas que às vezes custam muito para nosso orgulho: reconhecer nossos erros, conversar direitinho para expor sua opinião (mesmo que divergente), pedir desculpas, agradecer, dizer o que realmente sente… Naho e seus amigos ganharam uma segunda chance e o modo como eles a aproveitam é algo tão delicado e sublime, que não é de se estranhar que mesmo após tantas leituras ainda me leve às lágrimas.

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Um show de capas e um título com muitas interpretações

Até mesmo as capas de Orange contavam uma história e nos davam pistas de onde a trama poderia nos levar e, para mim, deram um show à parte.

Comparar as capas dos volumes 1 e 2 já dá aquela preocupação: será que eles realmente vão conseguir o que almejam? Os rostos tristes de suas versões mais velhas trazem todo o arrependimento do passado?

A partir do terceiro volume, o jogo fica por conta da capa/contra-capa, pois elas são sempre o oposto. No volume 3, enquanto a capa traz um trio animado tomando sorvete, a contra-capa mostra um casal mais velho olhando saudoso para o passado.

O quarto volume dá uma pontada: na capa o filhinho de Naho e Suwa saúda alegre no colo da mãe o Kakeru da contra-capa e do passado, com seu sorriso contido. Mas a capa do quinto volume foi a que mais me assustou: ver os seis amigos felizes vendo a cor alaranjada do pôr do Sol enquanto na contra-capa apenas cinco amigos já não tão próximos e cheios de arrependimentos observam cores tão lindas com uma postura tão triste.

Não sei se o título do mangá foi dado por causa do desejo deles de ver o pôr do Sol todos os anos com Kakeru ou por um motivo mais banal: o suco de laranja que ele dá à Naho no dia em que ele aceita namorar com uma veterana e que, segundo nossa “mocinha”, “… era doce, um pouco azedo… e também triste”. Ambos os motivos são justos para mim.

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Um aniversário diferente

Uma das partes que mais me tocou foi perceber que, graças às cartas, Kakeru recebeu em vida seus presentes de aniversário, dentre eles, um muito especial: Suwa dá um buquê de flores a Kakeru que, por sua vez, o entrega a Naho. Vê-lo fazer isso no futuro a pedido de alguém que já não estava mais entre eles e com o agravante de que Naho era sua esposa só contribuiu para que eu desejasse ainda mais que não só Kakeru fosse salvo mas que Suwa fosse feliz. Do fundo do meu coração.

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O Kakeru que pertence àqueles que chegaram ao futuro

Em um dos capítulos do último volume de Orange, entramos na mente do Kakeru das lembranças da Naho e seus amigos dez anos à frente. Ver como tudo seria se eles não tivessem recebido a segunda chance, entender o quanto Kakeru se atormentava por não ter cumprido uma promessa banal à sua mãe e o quanto uma palavra mal empregada pode prejudicar alguém me fez pensar ainda mais no quanto aquilo que dizemos sem pensar pode ser um divisor de águas para alguém.

Kakeru não contava que podia se abrir sem medo para seus novos amigos, mas ao mesmo tempo não imaginava que seus antigos colegas seriam tão displicentes com suas revelações. Pode-se dizer que isso foi o estopim para que Kakeru fizesse o que fez: uma decisão tomada num momento de dor e que poderia ter sido evitada se alguém tivesse parado para entender seus sentimentos, nem que fosse apenas um pouco.

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Uma obra como poucas

Fazia muito, mas muito tempo que uma história não me emocionava desta forma, a ponto de me fazer pensar em trilha sonora quando estava lendo. A cada volume, ouvia lá no fundo de minha mente a emocionante “Kiseki” do Greeen, afinal, eles precisariam de um “milagre” para salvar Kakeru.

Meu coração foi inundado mais de uma vez pela vontade de receber uma carta dessas, que me permitiria consertar alguns erros do passado e me ajudaria a não me sentir tão mal hoje em dia: ser mais sincera comigo mesma e com quem eu já amei um dia; deixar de me preocupar tanto com o que pensam sobre meu jeito; entender mais os motivos que levaram a minha vida a ser hoje do jeito que é e… pensar mais nas escolhas que fiz para não me arrepender tanto depois.

Naho, Kakeru, Suwa, Azu, Hagita e Takako tiveram sua segunda chance e podem sorrir do fundo do coração, todos juntos. Acredito firmemente nisso e desejo que sejam publicadas aqui não só obras que visam vender milhões de exemplares, mas aquelas que toquem nossos corações como Orange me tocou.

Se você se arrepende de algo, siga em frente de cabeça erguida para não cometer os mesmos erros no futuro. Escute mais, aprenda com as falhas e perceba; você não está sozinho… E seja feliz.

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Luana Tucci de Lima
Luana Tucci de Lima
Fã incondicional de CLAMP, Nobuhiro Watsuki e Yuu Watase. Adora mangás Yaoi , Turma da Mônica e... mordomos de óculos.

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