Vivendo no Japão #20: Temos que pegar (todos)!

E aí, pessoal! Quem leu minha última postagem deve lembrar o quanto eu estava desesperado para jogar Pokémon Go. Pois bem, uma semana depois que aquele texto foi ao ar o jogo finalmente estreou no Japão, e eu to aqui pra contar como está sendo a experiência de jogar por aqui.

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No dia 22 de julho, as exatas 10 horas da manhã Pokémon Go teve finalmente seus servidores japoneses liberados e o jogo foi lançado oficialmente no Google Play e na Apple Store, e rapidamente viralizou, conforme o esperado. Eu que havia passado quase duas semanas abrindo o meu app baixado da loja americana a cada cinco minutos já havia perdido as esperanças devido a tantos boatos falsos e adiamentos que a empresa realizou, e ainda tinha uma reunião com uma professora marcada para às 10 horas. Resultado, eu só fiquei sabendo que o jogo tinha sido lançado, 20 minutos depois, sentado na sala onde minha aula estava pra começar. Acreditem foi a aula mais longa da minha vida.

Assim que a aula terminou eu larguei minha mochila na escrivaninha, peguei apenas meu celular e sai explorando o campus no começo da minha jornada Pokémon. Mesmo já tenho visto o impacto gigantesco que o jogo estava tendo nos demais países em que já havia sido lançado, eu estava cético de que ele teria tanta repercussão no Japão, pois a imagem que eu tinha dos jovens adultos (na casa dos 20) japoneses, é de que no geral, tirando aqueles que são realmente interessados em games, os demais tem uma resistência muito grande a entretenimento do tipo. Eu não podia estar mais enganado. Ao sair do prédio em que estava tendo aula durante o horário de almoço eu vi a grande massa de estudantes saindo de suas salas, todos com os celulares em mãos caçando pokémons. Eu fiquei andando por cerca de duas horas pelo campus, procurando os melhores pontos com PokéStops (os pontos do mapa em que você pode ganhar pokéballs e outros itens a cada 5 minutos) e bastante incidência de pokémons. Infelizmente o servidor estava ainda bastante instável e somado ao meu celular de baixa capacidade e ao sol que fazia com que eu tivesse que usar a luz da tela no máximo e aquecia demais o aparelho, foi uma tarde bastante frustrante. Especialmente com meu GPS ficando completamente perdido e enviando meu personagem para bem longe do pokéstop onde eu realmente estava. Mas frustrações a parte, eu fiquei extremamente contente com a movimentação de pessoas por causa do game.

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Na mesma noite me reuni com meus amigos brasileiros e saímos pra caçar uns pokémons. Daí por diante foram 4 dias de caçada. Sábado fomos para o centro da cidade, onde passamos o dia inteiro caçando, no domingo caçamos ao redor na nossa casa, e segunda-feira me desloquei até outro campus da nossa universidade, que fica perto do centro da cidade, para procurar por mais pokémons e encher minha mochila de pokéballs, que se esgotam muito rápido por não haver uma quantidade suficiente de pokéstops perto de casa. Das 10 da manhã até altas horas da noite (na primeira noite até 4 da manhã, e nas demais até por volta de meia noite ou 1 da manhã). O jogo realmente me fez sair de casa, andar, explorar o mundo. Quem diria, um cara sedentário e preguiçoso como eu, fico empolgado cada vez que tenho que sair de casa e até tenho usado mais a minha bike para ir pra faculdade, mesmo sob um sol tenebroso, apenas porque a bicicleta é mais eficaz para chocar os ovos de pokémon. Além disso, mesmo na vida cotidiana nós modificamos nossa rota, para uma que passa por mais PokéStops. Lembro que toda vez que eu tinha que sacar dinheiro no campus eu sofria, porque o caixa eletrônico do meu banco se localiza no prédio do extremo da ala oeste, enquanto o local que eu costumo ter aulas é na entrada do campus na ala central. Agora no entanto, eu frequento essa ala oeste por volta de duas ou três vezes por dia, apenas por ter muitos PokéStops.

E não são apenas os meus hábitos que mudaram. O jogo possui um item chamado Lure Module, é basicamente algo que você coloca nesses PokéStops para atrair pokémons para aquele ponto, e todas as pessoas podem se beneficiar. Pois bem, a estação perto de casa tem dois desses pontos, já não é surpresa quando passamos pela estação de noite e vemos uma grande quantidade de pessoas ali reunidas com seus celulares em mãos. Mas o que me surpreendeu inicialmente foi ao verificar meu jogo altas horas da noite (meia noite ou 1 da manhã) e ver que os PokéStops da estação estavam com Lure, ou seja, que haviam pessoas jogando nesse horário. Ainda, nas minhas caças noturnas, não é raro encontrar grupos de amigos ou famílias reunidos nos inúmeros parques da região, que normalmente não eram muito frequentados, exceto pelas crianças de dia.

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Com isso, fiquei bastante pensativo sobre o impacto econômico e social do jogo. Claro que os portais de notícia gostam de reportar os acidentes e outras situações desagradáveis envolvendo jogadores. Mas são inúmeros os relatos de pessoas que sofriam de problemas como depressão ou outras complicações psicológicas, ou até mesmo apenas preguiçosos ou sedentários como eu, que graças ao jogo conseguiram superar suas dificuldades e sair mais de casa. Quanto ao impacto econômico, também não são poucos os estabelecimentos que estão se beneficiando de sua localização vantajosa com PokéStops ou Hotspots (basicamente um ponto no mapa onde frequentemente aparecem muitos pokémons ou pokémons raros), alguns usando dos Lure Modules para atrair pessoas para o estabelecimento. A franquia McDonalds aqui do Japão, por exemplo, fechou um acordo com a empresa desenvolvedora. Toda loja da franquia é um PokéStop, e sendo um dos poucos restaurantes em que você pode encontrar tomadas para carregar seu celular, se tornou praticamente o point dos treinadores pokémon. Eu mesmo nos dias de exploração no centro da cidade tenho vivido à base de McDonalds, que felizmente aqui não é caro.

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Mas pela minha experiência, não apenas esses locais vantajosos foram beneficiados. Com o aumento de pessoas nas ruas pela noite, eu cogito a possibilidade de as lojas de conveniência terem tido seu número de clientes aumentado nesta última semana. Eu mesmo, que evito lojas de conveniência por terem um preço ligeiramente mais caro do que os supermercados, tenho gastado muito mais dinheiro nelas, simplesmente pela praticidade.

Outra deliciosa surpresa foi ver o jogo se tornar objeto de debate dentro da sala de aula. No dia anterior ao lançamento do jogo eu estava prestes a fazer uma apresentação sobre minha pesquisa (sobre Light Novels e tal), quando meu professor me indagou sobre o motivo do sucesso Pokémon Go (provavelmente por ter notado minha empolgação no facebook). Após a minha apresentação, na sessão de questões e discussão sobre o que eu havia apresentado, outro professor, que não estava no momento da conversa anterior, este mais “conservador”, novamente trouxe Pokémon Go como assunto para o debate. Tentando encontrar relação entre essas mídias de entretenimento e qual seria seu grande atrativo. Foi uma verdadeira sensação de vitória pra mim ver esse jogo que eu estava tão empolgado, parte de uma franquia que acompanhou toda a minha vida desde seu lançamento na minha infância, ser trazido para o centro de um debate acadêmico justamente durante meu seminário.

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Eu me pergunto por quanto o fenômeno vai durar, e fico bem curioso para ver os próximos desdobramentos deste jogo não só para a empresa de jogos, mas para a vida das pessoas como um todo. O jogo ainda não foi lançado em diversos países, inclusive o Brasil, mas não percam as esperanças, há boatos de que o lançamento será em muito breve (provavelmente já vai ter sido lançado quando você estiver lendo este texto). Até lá, recomendo que vejam os vlogs, como do Leon (Coisa de Nerd) ou outros youtubers gringos para aprender os truques todos e quando o jogo ser lançado você ser expert. Peguem suas pokéballs, botem o boné, mochila nas costas e “Temos que pegar!”

PS. Seria redundante dizer que minha obsessão essa semana é Pokémon Go, certo? Então vou dizer que minha obsessão é esse Snorlax que apareceu no meu quarto algumas noites atrás, quando eu abri o jogo só pra uma última olhada antes de dormir. Ele veio com Combat Points extremamente altos, e usando um site para calcular os IVs, soube que ele tem IVs perfeitos. Já se tornou meu defensor de ginásios predileto.

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Rafael Vinícius Martins
Rafael Vinícius Martinshttps://daisukeinkyoto.wordpress.com/
Jovem otaku/geek/nerd, mestrando em Literatura Comparada na Universidade de Kyushu, tendo como foco culturas de massa (animê, mangá, light novel). Membro do clube de acapella HarmoQ, e viciado em livrarias e lojas de produtos de animê. Facebook: https://www.facebook.com/daisuke.h0j0 Instagram: @daisuke_h0j0

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