Crítica | Plano 75: Um Olhar Visceral sobre um Futuro Sombrio

Essa semana chegou aos cinemas brasileiros o filme Plano 75, sendo uma coprodução do Japão, França, Filipinas e Qatar. Trazendo questionamentos, o filme deixou a sua marca no cenário internacional. O Plano 75 vale aqui frisar que foi a indicação do governo japonês ao Oscar, além de conquistar diferentes prêmios em festivais de cinema pelo planeta. Mas do que se trata Plano 75? Antes de explicar, temos que dizer que é uma produção com abordagem ousada e provocativa, não sendo nem de longe um filme para todos.

Ao optar mergulhar fundo em uma das questões mais pertinentes da sociedade japonesa: o envelhecimento gradativo da população e suas consequências insustentáveis. O filme se propõe com uma proposta simples, porém moralmente questionável, em que o governo japonês, decide que para salvar a economia do país, precisa eliminar os idosos, assim adotando o controverso Plano 75.

Explicando na prática, o governo japonês oferece aos cidadãos com 75 anos ou mais a opção de escolher a data de sua própria morte, em troca de um auxílio financeiro de 100 mil ienes (3.314,50 reais na moeda atual). A decisão é clara e imoral para nós que estamos assistindo o filme, mas ali, a proposta tem objetivo de fazer com que essa parcela da população se sinta culpada por estar prejudicando o funcionamento do país e essa medida, aparentemente simplista, desencadeia uma série de reflexões e dilemas morais entre os habitantes, especialmente aqueles que estão na terceira idade.

A história de Plano 75

Michi Kakutani cantando no Plano 75

O filme se desenrola em torno de três protagonistas: Michi Kakutani (interpretada pela atriz Chieko Baishô), uma idosa enfrentando as duras consequências do Plano 75; Hiromu Okabe (interpretado pelo ator Hayato Isomura), um funcionário encarregado de lidar com os idosos que optam por aderir ao programa; e Maria (interpretada pela atriz Stefanie Arianne), uma imigrante filipina que busca sustentar sua família e custear o tratamento de sua filha nas Filipinas, trabalhando como cuidadora de idosos no Japão.

A narrativa entrelaça os destinos desses personagens, fazendo que suas vidas se encontrem algumas vezes, nesse emaranhado da vida em que o filme apresenta diferentes facetas do impacto na sociedade japonesa. Sendo que quem tem maior espaço de cena é a personagem Michi Kakutani que se traduz numa senhora idosa lutando para manter sua dignidade em meio à adversidade. Além dela, o personagem Hiromu Okabe, tem a segunda trama com maior destaque ao trazer um funcionário público confrontando os dilemas éticos de sua profissão quando seu tio aparece para aceitar as regras do Plano 75. Infelizmente a trama com menor espaço de tela é a da Maria no papel de mãe imigrante sacrificando seus próprios valores em troca da sobrevivência de sua família.

Hiromu Okabe trabalho no Plano 75

Com direção de Chie Hayakawa, Plano 75 tem um trabalho em cena todo especial e podemos acompanhar por exemplo, a desilusão da Michi em ver as portas da sociedade fecharem para ela. No momento que ela perde uma amiga de causas naturais e aceita o Plano 75, a maior alegria da personagem é ter 15 minutos de ligação por dia com uma atendente do governo.

Já a trama de Hiromu Okabe, vai até um lado obscuro do Plano 75, quando ele se questiona se deveria dar atenção ao tio dele, mesmo ele ter ignorado o velório do próprio irmão (pai do Hiromu). Mas algo que chama atenção é quando Hiromu descobre que tem algo errado quando as cinzas da cremação em massa do Plano 75, o que faz com que ele não aceite tão bem a decisão do tio em morrer nas mesmas circunstâncias.

O filme não poupa esforços em tocar na ferida, quando Maria deixa de ser cuidadora para trabalhar pro governo no Plano 75, assim ela acaba encarregada de tirar as peças de valores dos idosos, antes de serem mortos. E diversas vezes, vemos discussões com outro funcionário, sobre utilizar aqueles itens, além de dinheiro e objetos de valor ali encontrados. Mas ganhar mais ali, é o fundamento para conseguir a cirurgia para sua filha, não sendo à toa que passou por cima dos valores morais.

Chieko se questionando se tomou a decisão correta

Chega num momento do filme que o governo anuncia o sucesso do Plano 75, tendo um valor maior de arrecadação e se propondo a uma segunda fase ainda mais cruel em cima dos idosos. É claro ali que o governo cada vez mais aumentaria o projeto, fazendo com que cada vez mais as pessoas se sentissem descartáveis.

Se destacando por sua abordagem crua e desassombrada, oferecendo um retrato perturbador de um futuro possível, Plano 75 traz atuações marcantes, especialmente de Chieko Baishô como Michi Kakutani. O filme cativa o espectador, convidando-o a refletir sobre as questões mais urgentes de nossa sociedade contemporânea.

O Plano 75 não é apenas um filme, mas um provocativo exercício sobre o nosso futuro, instigando-nos a buscar soluções mais humanas e compassivas para os desafios que enfrentamos como sociedade. Vale aqui salientar que o envelhecimento da população não é uma exclusividade do Japão, sendo assunto constante no nosso país também. É lógico que uma solução dessas é imoral e nunca deveria ser pensada por nossa sociedade, porém nos cinemas ela está ali representada no filme e nos faz questionar se é esse o futuro que queremos. Este é um filme que nos desafia a repensar nossos valores e prioridades, e tentar imaginar um futuro mais justo e solidário para todos.

Plano 75

Direção: Chie Hayakawa

Roteiro: Chie Hayakawa, Jason Gray

Produção: Jason Gray

Elenco: Chieko Baishō, Hayato Isomura, Stefanie Arianne, Taka Takao, Yumi Kawai

Direção de Fotografia: Hideho Urata

Desenho de Produção: Setsuko Shiokawa

Trilha Sonora: Remi Boubal

Montagem: Anne Klotz

Gênero: drama, suspense

País: Japão, França, Filipinas

Ano: 2022

Duração: 113 min.

Em exibição nos cinemas

Nota: 5/5

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Giuliano Peccilli
Giuliano Peccillihttp://www.jwave.com.br
Editor do JWave, Podcaster e Gamer nas horas vagas. Também trabalhou na Anime Do, Anime Pró, Neo Tokyo e Nintendo World.

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