A Melhor Mãe do Mundo | Abre o CINE-PE com força emocional e olhar social

Com uma carreira marcada por personagens femininas fortes e retratos sociais contundentes, Anna Muylaert escolheu a 29ª edição do CINE-PE para a estreia nacional de seu oitavo longa-metragem, A Melhor Mãe do Mundo. O filme abre o festival, que acontece entre os dias 9 e 15 de junho no Recife, com sessões gratuitas ao público e promete ser um dos destaques da Mostra Competitiva de Longas-Metragens, concorrendo em todas as categorias do Troféu Calunga.

Apresentado pela primeira vez no Festival de Berlim, onde conquistou elogios da crítica internacional, o longa vem acumulando prêmios na França — incluindo o voto popular em Nice e Toulouse — e chamou atenção em sua première americana no San Francisco International Film Festival. A repercussão tem colocado o título como um dos fortes candidatos à vaga brasileira na corrida pelo Oscar de Melhor Filme Internacional em 2026.

Retrato urbano de uma mãe em fuga

A Melhor Mãe do Mundo acompanha a trajetória de Gal, interpretada por Shirley Cruz (3%, A Vida Invisível), uma catadora de materiais recicláveis que decide romper com o ciclo de violência doméstica ao abandonar o marido abusivo, vivido por Seu Jorge, levando consigo os filhos Rihanna (Rihanna Barbosa) e Benin (Benin Ayo). Em sua carroça, a protagonista atravessa São Paulo inventando uma jornada de fantasia para proteger os filhos da dura realidade de não ter um teto.

Com uma fotografia sensível de Lílis Soares e trilha sonora assinada por André Abujamra, o filme constrói um universo íntimo, onde a maternidade emerge como um gesto radical de proteção e esperança. O elenco ainda traz participações marcantes de Luedji Luna, Rejane Faria, Katiuscia Canoro, Lourenço Mutarelli e do rapper Dexter, compondo um mosaico humano que transita entre a dureza e a ternura.

Olhar crítico e afeto no cinema de Muylaert

Muito mais do que uma história sobre superação, A Melhor Mãe do Mundo reafirma a trajetória de Anna Muylaert como uma das principais vozes do cinema brasileiro contemporâneo. Após o sucesso de Que Horas Ela Volta? — indicado ao Critics Choice e aclamado pelo público e crítica — Muylaert retorna ao tema da maternidade sob um novo prisma: o da resistência negra e periférica frente ao abandono institucional.

Críticas como as da Variety destacam o impacto do filme ao retratar a realidade das mulheres marginalizadas no Brasil, ressaltando a entrega de Shirley Cruz, que traduz com potência a vulnerabilidade e a coragem de sua personagem. O site IonCinema enxerga na atuação de Cruz uma performance que “brilha em meio ao caos urbano”, enquanto o Escribiendo Cine vê no longa uma ampliação da visão de Muylaert sobre o feminino, agora filtrado por questões raciais e de classe.

Anna Muylaert: uma autora do nosso tempo

Desde Durval Discos (2002) até obras como Mãe Só Há Uma (2016) e Alvorada (2022), Anna Muylaert tem costurado um cinema autoral, sensível às tensões sociais e políticas do Brasil. Além de diretora, é roteirista de seus próprios projetos, e colaborou em filmes importantes como Desmundo, Xingu e O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias.

Com A Melhor Mãe do Mundo, seu cinema ganha novas camadas ao combinar a fantasia infantil com a urgência do real. O roteiro, assinado em colaboração com Grace Passô e Mariana Jaspe, revela um refinamento dramático, ao mesmo tempo que denuncia — sem panfletarismo — a ineficiência do Estado frente à violência doméstica.

Pôster

Estreia nos cinemas brasileiros em agosto de 2025

Depois de sua apresentação no CINE-PE, o filme tem lançamento nacional previsto para agosto de 2025. A produção é da +Galeria e Biônica Filmes, com coprodução argentina, e marca mais um capítulo essencial na cinematografia brasileira contemporânea. A Melhor Mãe do Mundo chega não apenas como destaque de festival, mas como uma obra que instiga reflexão, emociona e amplia o debate sobre maternidade, resistência e desigualdade.

Giuliano Peccilli
Giuliano Peccillihttp://www.jwave.com.br
Editor do JWave, Podcaster e Gamer nas horas vagas. Também trabalhou na Anime Do, Anime Pró, Neo Tokyo, Nintendo World e Jornal Nippon Já.

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