Não Sou Nada estreia no Brasil e leva Fernando Pessoa ao cinema como você nunca viu

Chega aos cinemas brasileiros no dia 5 de junho o filme Não Sou Nada, uma ousada produção portuguesa dirigida por Edgar Pêra que mergulha na mente do poeta Fernando Pessoa de forma única. Misturando cinema experimental, thriller psicológico e poesia pura, o longa se destaca como uma das estreias mais inusitadas do ano — especialmente para quem curte produções que fogem do lugar-comum.

Lançado em 2023 no Festival de Roterdã, Não Sou Nada é uma produção da Bando à Parte, com distribuição no Brasil pela Fênix Filmes. O filme é inspirado no poema homônimo de Álvaro de Campos, um dos heterônimos mais intensos de Pessoa. Mas aqui não há adaptação clássica — o que vemos na tela é um colapso criativo entre verso, imagem e som, onde tudo se mistura em um fluxo poético e visual intenso.

O enredo se passa numa redação fictícia, onde Pessoa (interpretado por Miguel Borges) divide espaço com seus heterônimos — todos vestidos de forma idêntica — enquanto trabalham na 23ª edição da revista Orpheu. A chegada de Ofélia (Victoria Guerra), sua paixão do mundo real, e de Álvaro de Campos (Albano Jerónimo), que quer dominar o pensamento do poeta, desencadeia uma série de eventos que misturam delírio, identidade fragmentada e até mesmo assassinatos.

A estética do filme é um espetáculo à parte. Edgar Pêra usa diferentes mídias — Super 8, vídeo digital e arquivos deteriorados — para criar uma atmosfera sombria e instável. A Lisboa que surge nas telas está longe da turística: é decadente, misteriosa, quase apocalíptica. A trilha sonora, assinada por The Legendary Tigerman (Paulo Furtado), reforça o clima alucinatório da obra — e o próprio músico aparece no elenco.

O roteiro, assinado por Pêra em parceria com Luísa Costa Gomes, incorpora trechos dos poemas de Fernando Pessoa, incluindo passagens em inglês. Isso aproxima ainda mais o filme do universo múltiplo e desordenado que caracteriza a obra do poeta português. A montagem frenética de Cláudio Vasques, a fotografia de Jorge Quintela e o design de produção de Ricardo Preto completam esse quebra-cabeça visual e sensorial.

Mais do que uma cinebiografia, Não Sou Nada é uma experiência. É cinema que desafia, que desconstrói e que instiga. Para fãs de literatura, de arte e de obras que não entregam respostas prontas, este é um filme que vale ser vivido — não apenas assistido.

Direção: Edgar Pêra

Roteiro: Edgar Pêra, Luísa Costa Gomes

Fotografia: Jorge Quintela

Montagem: Cláudio Vasques

Som: Pedro Marinho

Design De Produção: Ricardo Preto

Música: Jorge Prendas

Trilha Sonora: The Legendary Tigernam

Elenco: Miguel Borges, Victoria Guerra, Albano Jerónimo, Vitor Correia, Marco Paiva, António Durães, Paulo Pires

Produtor: Rodrigo Areias

Produzido Por: Bando À Parte

Classificação Indicativa: 16

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