A estreia mundial de O Riso e a Faca no Festival de Cannes 2025 movimentou a mostra Un Certain Regard no último sábado (17) e logo se consolidou como um dos títulos mais elogiados da seleção. Dirigido pelo cineasta português Pedro Pinho, o filme é uma coprodução entre Brasil, Portugal, França e Romênia — e despertou a atenção da crítica internacional com sua proposta ousada, densa e profundamente política.
O longa apresenta a jornada de Sérgio, um engenheiro ambiental que viaja para uma cidade na África Ocidental a serviço de uma ONG. Sua missão: construir uma estrada entre o deserto e a selva. Mas, ao se envolver com os moradores locais Diára e Gui, Sérgio mergulha em relações desequilibradas e complexas, revelando as tensões invisíveis do neocolonialismo e da solidão em terras estrangeiras.
Com mais de três horas de duração, O Riso e a Faca impressiona tanto pela escala quanto pelo cuidado narrativo. A crítica internacional não poupou elogios com O Le Monde destacando que O Riso e a Faca como “uma das propostas mais entusiasmantes vistas este ano na Croisette”, enquanto o jornal Libération descreveu o longa como “uma espécie de obra-prima louca”. O site C7nema chamou atenção para a ambição do projeto, definindo-o como “uma saga de proporções épicas por diferentes continentes e por uma língua de errância”. Já a ICS Film comparou a estética da obra à de Lucrecia Martel, ressaltando que o filme é “visualmente impressionante, filmado em um formato muito amplo que frequentemente faz os ambientes parecerem hostis a Sérgio e aos demais”. O portal In Review Online elogiou a sensibilidade de Pedro Pinho, chamando-o de “um cineasta paciente, perceptivo e generoso — nenhum personagem é indigno de desenvolvimento ou compaixão”. Para o Screen Daily, o trabalho de edição, feito por Pinho e mais três colaboradores, “cria uma história humana envolvente, repleta de subcorrentes sociopolíticas e históricas”. O site Journey Into Cinema foi ainda mais longe e afirmou que “esta é uma obra monumental. Deveria ter participado da competição principal”. Por fim, o Film New Europe destacou o caráter visual e emocional da narrativa, chamando-a de “uma odisseia visual que explora relações e dinâmicas complexas em uma comunidade de imigrantes”.
O filme é distribuído no Brasil pela Vitrine Filmes e tem coprodução nacional assinada pela Bubbles Projects. O elenco conta com Sérgio Coragem, Cleo Diára, Jonathan Guilherme, Renato Sztutman, Jorge Biague e Kody McCree, entre outros nomes de diferentes nacionalidades. A direção de fotografia é de Ivo Lopes Araújo e a montagem reúne talentos como Rita M. Pestana, Karen Akerman, Cláudia Oliveira e o próprio Pinho.
Pedro Pinho volta a Cannes oito anos após o sucesso de A Fábrica de Nada, vencedor do Prêmio FIPRESCI na Quinzena dos Realizadores de 2017. Agora, com O Riso e a Faca, ele aprofunda seu olhar sobre o mundo contemporâneo, misturando realismo político com lirismo estético.
Sem data oficial de estreia no Brasil, O Riso e a Faca promete ser um dos lançamentos mais provocativos e relevantes do ano, tanto para fãs de cinema de arte quanto para quem busca histórias que desafiam, emocionam e fazem pensar.
