Com “Futuro Futuro”, Davi Pretto volta aos grandes festivais internacionais menos de um ano após a estreia de Continente (2024), que passou por Sitges e saiu premiado no Festival do Rio. Agora, o diretor gaúcho apresenta um novo olhar sobre Porto Alegre — sua cidade natal — transformada em uma metrópole distópica e chuvosa, cenário onde se passa essa ficção científica melancólica e provocadora. O longa foi selecionado para a competição Proxima do Festival Internacional de Karlovy Vary, na República Tcheca, e será o único representante brasileiro nas seções competitivas da 59ª edição, que ocorre entre 4 e 12 de julho de 2025.
A mostra Proxima é voltada a novas vozes e propostas autorais ousadas. Criada há quatro anos, ela expande o escopo do festival, que acontece desde 1948 e é um dos mais tradicionais da Europa. A inclusão de Futuro Futuro nesse espaço reafirma a posição de Pretto como um dos cineastas brasileiros mais instigantes da atualidade.
No centro da trama está K, um homem de 40 anos sem memória, acolhido por um clickworker solitário em uma periferia brasileira marcada por desigualdade, chuva constante e um estranho colapso neurológico. K se submete a um curso que usa inteligência artificial para ajudar pessoas com essa nova síndrome e, a partir disso, embarca em uma jornada marcada por absurdos e angústias existenciais.
Zé Maria, ator de O Clube dos Canibais (2018) e Paloma (2022), interpreta K e lidera um elenco que mescla nomes recorrentes da obra de Pretto com rostos conhecidos do cinema independente. Entre eles, João Carlos Castanha — protagonista do primeiro longa do diretor —, Carlota Joaquina (Seus Ossos e Seus Olhos), Clara Choveaux (Luz nos Trópicos) e Higor Campagnaro (O Animal Amarelo). Olivia Torres, que brilhou em Ainda Estou Aqui e também protagonizou Continente, empresta sua voz à inteligência artificial do filme.
Filmado em apenas 16 dias em Porto Alegre, o longa enfrentou um obstáculo imprevisto e brutal: a maior enchente da história do Rio Grande do Sul, em maio de 2024, que inundou parte das locações e obrigou a equipe a repensar a produção. Pretto optou por uma saída radical e criativa: incorporou imagens geradas por inteligência artificial tanto como elemento narrativo quanto como solução estética, fazendo da própria limitação uma ferramenta de linguagem.
Esse uso da IA se entrelaça com o cerne do filme: os impactos cognitivos, sociais e políticos dessas tecnologias sobre o corpo, a memória e o trabalho. Futuro Futuro não é uma ficção científica tradicional — seu ritmo lo-fi e seu orçamento modesto servem à construção de uma atmosfera densa e melancólica, mais próxima do real do que gostaríamos de admitir.
O novo longa integra uma trajetória marcada pela força autoral: Castanha (2014), Rifle (2016), Continente (2024) e agora Futuro Futuro estabelecem uma continuidade temática e geográfica que transformam Porto Alegre em uma personagem por si só, ora crua, ora fabulada — sempre inquieta.
A produção é assinada pela Vulcana Cinema, com financiamento do FSA, BRDE, Ancine, RS FAC e apoio internacional via Projeto Paradiso. Futuro Futuro ainda passou pelo laboratório WIP Iberoamérica no FICCI, na Colômbia.
Mais do que um exercício de estilo, o filme é um retrato da fragilidade humana diante do avanço tecnológico e do colapso ambiental — um cinema que se faz na urgência, no improviso e na potência das ideias.
Elenco principal
Zé Maria Pescador – K
João Carlos Castanha – Silvio
Carlota Joaquina – Joana
Clara Choveaux – Antonieta
Higor Campagnaro – Isaac
Olivia Torres – voz da IA
Ficha técnica
Direção e Roteiro: Davi Pretto
Produção: Paola Wink e Jessica Luz
Fotografia: Leonardo Feliciano
Montagem: Bruno Carboni
Direção de Arte: Dayane Paz
Figurino: Gabriela Güez
Caracterização: Juliane Senna
Música Original: Rita Zart e Carlos Ferreira
Som: Tiago Bello (mixagem), Tomaz Borges (som direto)
Duração: 86 min | Formato: DCP, 2K, 24FPS, FLAT 1.85, 5.1 | Cor
Gênero: Drama, Sci-fi, Lo-fi
País: Brasil
Ano: 2025
Locações: Porto Alegre (RS)