Pela primeira vez, um longa-metragem de animação entra na Mostra Competitiva Brasileira de Longas do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba. Em sua 14ª edição, o festival realiza um feito inédito ao selecionar Glória & Liberdade, de Letícia Simões, cineasta e roteirista baiana radicada em Pernambuco, conhecida por seu trabalho nas séries Cangaço Novo e Maria Bonita e o Cangaço. A produção marca sua estreia mundial justamente no evento, que acontece de 11 a 19 de junho em Curitiba, ocupando espaços como a Ópera de Arame, o Museu Oscar Niemeyer e o Cine Passeio.
O Brasil reimaginado como Pau-Brasil
Glória & Liberdade convida o público a imaginar um Brasil de 2050 que não apenas rompeu com seu passado colonial, mas se fragmentou em novas nações após o sucesso das revoltas populares do século XIX — como a Cabanagem, Balaiada, Praieira e Sabinada. No lugar do país unificado, emerge o continente Pau-Brasil, formado por repúblicas e reinos independentes no território antes ocupado pelas regiões Norte e Nordeste.
Azul, protagonista interpretada por Larissa Góes, é uma documentarista da República da Bahia que percorre quatro dessas novas nações para investigar os motivos da fragmentação. Sua viagem a conduz por territórios com estéticas, culturas e memórias distintas, revelando múltiplas formas de pensar liberdade, identidade e pertencimento.
Uma jornada política e estética em quatro capítulos
A estrutura do filme é dividida em quatro capítulos, cada qual centrado em uma das novas nações: a Taua Sikusaua Kato, nação indígena com mais de 130 etnias na Amazônia; a República de Caixas, que abrange antigos territórios do Ceará, Maranhão e Piauí; o Reino Unido de Pernambuco; e a própria República da Bahia. A cada parada, Azul encontra pajés, hackers, historiadores e lideranças populares, entrelaçando a narrativa com elementos da cultura popular, ficção científica e linguagem documental.
A proposta de Letícia Simões não é apenas especulativa. Trata-se de uma fabulação crítica: “E se as revoltas regenciais tivessem dado certo?”, provoca a diretora. O longa funciona como um exercício de contra-história e também como uma reflexão sobre o presente e o futuro do Brasil.
Ao explorar as tensões entre território, memória e poder, a animação dialoga com questões urgentes — do colonialismo à autodeterminação dos povos — sem abrir mão de uma sensibilidade visual que destaca as singularidades de cada povo e região.
Revoluções externas e internas
Mais do que um percurso político, a trajetória de Azul é profundamente pessoal. A personagem é confrontada com dilemas familiares e emocionais, em especial com as contradições entre o que aprende em campo e o que vive em sua própria casa. É nesse entrelaçamento de micro e macro revoluções que o filme encontra sua força: trata-se tanto de uma odisseia territorial quanto de um processo de autoconhecimento.
Sessões especiais e debate com a equipe
A estreia de Glória & Liberdade acontece no dia 14 de junho, às 15h30, na Sala Claro MON, no Museu Oscar Niemeyer, com presença da equipe para debate. Haverá uma segunda exibição no dia 15 de junho, às 15h30, no Cine Passeio (sala Luz).
Outros destaques da Mostra Competitiva Brasileira
Além do inédito longa de animação, a Mostra Competitiva Brasileira reúne filmes que mergulham em afetos, desigualdades e resistências:
– “Apenas Coisas Boas” (Dir. Daniel Nolasco | Brasil | 2025 | 108’)
Classificação indicativa 18 anos
Sinopse: Catalão, interior de Goiás, 1984. Antonio vive sozinho e isolado cuidando dos afazeres de sua pequena fazenda até o dia em que seu destino cruza com o de Marcelo, um motoqueiro solitário que sofre um acidente atravessando a região. Antonio cuida das feridas de Marcelo. Os dois se apaixonam e vivem uma história que transforma, desestabiliza e provoca rupturas em cada um deles.
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=mYdk2rbtlG8
Sessões: 17 de junho, às 20h45, no Museu Oscar Niemeyer (Sala Claro MON) – seguida por debate com equipe do filme;
18 de junho, às 13h30, no Cine Passeio (Cine Passeio Luz).
– “Aurora” (Dir. João Vieira Torres | Brasil, Portugal, França | 2025 | 130’)
Classificação indicativa 14 anos
Sinopse: Aurora foi a avó do diretor. Sem saber ler ou escrever, ela foi parteira e curandeira por mais de quarenta anos no sertão profundo da Bahia. De um encontro a outro, com os vivos e os mortos, o filme segue seus rastros, confrontando a violência estrutural de gênero e racial, presentes na formação histórica do Brasil.
Trailer: https://vimeo.com/1081620206
Sessões: 15 de junho, às 20h30, no Museu Oscar Niemeyer (Sala Claro MON) – seguida por debate com equipe do filme;
16 de junho, às 15h15, no Cine Passeio (Cine Passeio Luz).
– “A Voz de Deus” (Miguel Antunes Ramos | Brasil | 2025 | 85’)
Classificação indicativa 12 anos
Sinopse: Duas crianças pregadoras buscam uma vida melhor através da fé. Daniel,17, lida com a frustração paterna: ele era a criança pregadora mais famosa do Brasil, mas à medida que cresce há cada vez menos interesse. João, por sua vez, está no auge: com 12 anos, possui um milhão de seguidores no Instagram, e prega para multidões. Um ciclo que termina e outro que começa. Um país que não é mais o mesmo.
Trailer: https://vimeo.com/1056516701/764048e773
Sessões: 12 de junho, às 21h, no Museu Oscar Niemeyer (Sala Claro MON) – seguida por debate com equipe do filme;
13 de junho, às 13h30, no Cine Passeio (Cine Passeio Luz).
– “Cais” (Dir. Safira Moreira | Brasil | 2025 | 69’)
Classificação indicativa 10 anos
Sinopse: Dois meses após o falecimento de sua mãe Angélica, Safira viaja em busca de encontrá-la em outras paisagens. Num curso fluvial, o filme percorre cidades banhadas pelo Rio Paraguaçu (Bahia) e pelo Rio Alegre (Maranhão), para imergir em novas perspectivas sobre memória, tempo, nascimento, vida e morte.
Trailer: https://vimeo.com/1018111004/0b7a89e330
Sessões: 16 de junho, às 21h15, no Museu Oscar Niemeyer (Sala Claro MON) – seguida por debate com equipe do filme;
17 de junho, às 13h40, no Cine Passeio (Cine Passeio Luz).
– “Explode São Paulo, Gil” (Dir. Maria Clara Escobar | Brasil, Portugal | 2025| 97’)
Classificação indicativa 14 anos
Sinopse: Gil sempre quis ser cantora. Ela se mudou para São Paulo com sua esposa quando tinha 20 e poucos anos. Agora, aos 50, é faxineira. Maria Clara lhe propõe fazer um filme no qual Gil será CANTORA. Ela também quer explodir São Paulo. Gil não quer, mas aceita para que o filme aconteça. Gil se torna uma famosa, elas explodem duas cidades e refletem sobre sonhos, trabalho, envelhecimento e esquecimento.
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=Qf6Y_vCtXkA
Sessões: 13 de junho, às 21h15, no Museu Oscar Niemeyer (Sala Claro MON) – seguida por debate com equipe do filme;
14 de junho, às 16h00, no Cine Passeio (Cine Passeio Luz).
– “Paraíso” (Dir. Ana Rieper | Brasil | 2025 | 76’)
Classificação indicativa 14 anos
Sinopse: Documentário de longa-metragem sobre as heranças da condição colonial brasileira na vida diária de hoje. A partir de uma narrativa musical e do uso de material de arquivo de naturezas diversas, o filme propõe uma viagem inquieta por relações forjadas pela posse de terras e de pessoas. Uma sinfonia popular sobre violência, resistência, força e afeto.
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=Y6L_VraQaYM
Sessões: 15 de junho, às 16h, no Museu Oscar Niemeyer (Sala Claro MON) – seguida por debate com equipe do filme;
16 de junho, às 16h00, no Cine Passeio (Cine Passeio Luz).
– “Torniquete” (Dir. Ana Catarina Lugarini | Brasil | 2025 | 75’)
Classificação indicativa 14 anos
Sinopse: Uma família multigeracional de três mulheres enfrenta as marcas de mais uma invasão traumática, revisitando o passado, reconstruindo o futuro e curando suas feridas.
Trailer:https://www.youtube.com/watch?v=sh2NHVxbUt0
Sessões: 14 de junho, às 21h, no Museu Oscar Niemeyer (Sala Claro MON) – seguida por debate com equipe do filme;
15 de junho, às 15h45, no Cine Passeio (Cine Passeio Luz) – Sessão com recursos de acessibilidade – Audiodescrição e Libras;
– “Glória & Liberdade” (Dir. Letícia Simões | Brasil | 2025 | 73’)
Classificação indicativa 14 anos
Sinopse: 2050. O continente Pau-Brasil celebra 200 anos das Revoltas Regenciais que dividiram o Brasil em nações. Azul, documentarista da República da Bahia, viaja pelo Norte e Nordeste para investigar o colapso da unidade brasileira. Entrevistando líderes, camponeses, pajés e hackers, ela explora revolução e identidade. Em casa, enfrenta uma insurreição que desafia suas certezas sobre história e luta.
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=YdmGwCjSig0
Sessões: 14 de junho, às 15h30, no Museu Oscar Niemeyer (Sala Claro MON) – seguida por debate com equipe do filme;
15 de junho, às 15h30, no Cine Passeio (Cine Passeio Luz) – Sessão com recursos de acessibilidade – Audiodescrição e Libras;
Um festival em constante reinvenção
O Olhar de Cinema segue se consolidando como um dos mais importantes festivais do país ao dar espaço para olhares diversos e formatos narrativos híbridos. A inclusão de uma animação na principal mostra competitiva brasileira é sintomática de um cinema em expansão — que não só repensa o país que temos, mas também os futuros possíveis que podemos imaginar.
Serviço:
14º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba
Data: 11 a 19 de junho de 2025
Site oficial: www.olhardecinema.com.br
Ingressos: R$8 (meia-entrada), R$16 (inteira). Há também sessões gratuitas – consultar programação. Vendas também pelo aplicativo oficial, disponível para IOS e Android.
Redes Sociais: Instagram: www.instagram.com/Olhardecinema
Facebook: www.facebook.com.br/Olhardecinema
Tik Tok: @olhardecinema,
X/Twitter: @Olhardecinema_Realização: Ministério da Cultura – Governo Federal
Apresentação: Rumo Logística
Patrocínio Master: Itaú, Claro
Patrocínio Ouro: TCP – Terminal de Contêineres de Paranaguá
Patrocínio Prata: Peróxidos do Brasil, Campari
Apoio: Sanepar, Copel, Adami S/A, Instituto Rumo, Projeto Paradiso, Teatro da Vila, Cinemateca, Cine Passeio, ICAC, Fundação Cultural de Curitiba e Prefeitura de Curitiba
Projeto aprovado no Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura | PROFICE da Secretaria de Estado da Cultura | Governo do Estado do Paraná
Produção: Grafo Audiovisual
