O cinema francês volta a explorar com delicadeza e inteligência os temas do amor, da amizade e da moral cotidiana em Três Amigas, novo longa-metragem de Emmanuel Mouret, que estreia nos cinemas brasileiros em 19 de junho. Selecionado oficialmente para a Biennale de Veneza 2024 e um dos títulos mais assistidos no Festival Varilux deste ano, o filme confirma o diretor como um dos herdeiros contemporâneos da tradição de cineastas como Éric Rohmer e François Truffaut.
Com um elenco de peso liderado por Camille Cottin, India Hair, Sara Forestier, Vincent Macaigne e Damien Bonnard, Três Amigas (ou Trois Amies, no original) propõe um olhar íntimo e bem-humorado sobre três mulheres em momentos distintos de suas vidas sentimentais: Joan, Alice e Rebecca. Cada uma delas lida com diferentes nuances da paixão e da honestidade afetiva, mas é no vínculo de amizade que encontram refúgio e força para enfrentar os conflitos que surgem.
Amores em crise, amizades intactas
A trama gira em torno de Joan, que não sente mais amor por Victor, mas se sente culpada pela ausência de paixão. Sua melhor amiga, Alice, tenta consolá-la ao relatar que também não vive um amor arrebatador com Eric, ainda que o relacionamento pareça estável. O que Alice não sabe é que Eric está tendo um caso com Rebecca, a terceira integrante do grupo. Quando Joan decide se separar e Victor desaparece misteriosamente, o cotidiano das três vira do avesso.
Mouret constrói essa rede de tensões com sua costumeira elegância e ironia. A amizade entre as protagonistas é testada, mas nunca rompida – mesmo diante de traições e desilusões amorosas. O diretor evita o melodrama explícito, optando por sugerir a tragédia emocional através de cenas carregadas de sutilezas e diálogos espirituosos.
Como observa o próprio cineasta: “A amizade permite variações interessantes e delicadas: envolve dilemas morais, conselhos não pedidos, segredos guardados e até mentiras por compaixão. Mas, mesmo com a instabilidade amorosa, os laços de amizade dessas mulheres permanecem firmes.”
Leveza dramática à moda francesa
A crítica especializada celebrou o filme pela sua abordagem sincera e sua construção refinada. O Libération o descreveu como “um melodrama belo escondido sob o charme leve do anedótico”, enquanto a Elle o considerou “uma comédia dramática leve, animada e agradável”. Já o Le Figaro destacou seu tom “divertido, delicado e bem francês”. O roteiro espirituoso e as atuações vibrantes também foram elogiadas por veículos como Screen International e Marianne.
Ao revisitar os jogos amorosos com ares contemporâneos, Mouret reafirma sua assinatura estética e temática, que vem se desenvolvendo em obras como Amores Infiéis (2020) e Crônica de uma Relação Passageira (2022). Em Três Amigas, ele aprofunda seu olhar sobre as tensões entre verdade e mentira, desejo e compromisso, fantasia e realidade – tudo isso envolto num humor sutil e numa direção que valoriza o gesto e o silêncio tanto quanto a palavra.
Um diretor fiel ao cinema de emoções
Nascido em 1970, Emmanuel Mouret é um dos nomes mais consistentes do cinema francês contemporâneo. Formado em cinema, estreou nos longas em 1999 e desde então dirigiu títulos reconhecidos em festivais como Cannes, Toronto, Locarno e Veneza. Em seus filmes, o cotidiano vira matéria-prima para reflexões emocionais, sem abrir mão do charme da comédia romântica.
Trailer
Distribuição e legado nos cinemas brasileiros
Três Amigas chega ao Brasil em codistribuição da Bonfilm e da O2 Play. A Bonfilm, que também organiza o Festival Varilux de Cinema Francês há mais de 15 anos, é referência na promoção da cinematografia francesa no país. Já a O2 Play, braço da O2 Filmes (de Fernando Meirelles), se destaca pela distribuição de títulos autorais e premiados, em parceria com plataformas como Netflix e MUBI.
A estreia de Três Amigas reforça o compromisso de ambas as distribuidoras em trazer ao público brasileiro narrativas sensíveis e sofisticadas, capazes de tocar pela universalidade dos sentimentos – algo que o cinema francês continua a fazer com maestria.