Não Sou Nada | Nos Labirintos da mente de Fernando Pessoa e o cinema experimental de Edgar Pêra

Não Sou Nada, o novo longa de Edgar Pêra, é uma experiência sensorial que mistura poesia, surrealismo e thriller psicológico. Com estreia no Brasil marcada para 15 de maio, o filme é um mergulho no universo de Fernando Pessoa, mais precisamente no tumultuado mundo de seu heterônimo Álvaro de Campos. A produção, que traz à tona o caos criativo do poeta, propõe uma nova abordagem para o cinema biográfico, fugindo das convenções e se tornando uma obra de arte que desafia os limites entre realidade e delírio.

No filme, o poeta Fernando Pessoa (interpretado por Miguel Borges) não está sozinho. Em sua mente, habita um “Clube do Nada”, onde seus heterônimos, como Álvaro de Campos (Albano Jerónimo), tomam forma e disputam espaço. A trama se passa em uma redação, onde Pessoa e seus alter egos trabalham na revista fictícia Orpheu. No entanto, o ambiente inicialmente controlado começa a se desestabilizar com a chegada de Ofélia (Victoria Guerra), a paixão conhecida do poeta, o que desencadeia uma série de eventos misteriosos e até assassinatos.

Trailer

Uma montagem desconstruída e uma Lisboa em ruínas

Pêra não se limita a contar uma história convencional. Através de uma montagem fragmentada que mistura Super 8, vídeo digital e arquivos deteriorados, Não Sou Nada cria uma atmosfera de desintegração tanto física quanto psicológica. A Lisboa que vemos no filme não é a cidade turística, mas um labirinto sombrio, com fábricas abandonadas e espaços em ruínas. A trilha sonora de The Legendary Tigerman, com sua mistura de jazz noir e noise, amplia a tensão e o desconforto da narrativa.

Cinema como uma viagem sensorial e caótica

O filme não segue uma linha narrativa tradicional. Ao contrário, Pêra constrói uma experiência que se assemelha a um delírio cinematográfico, onde a lógica dá lugar ao caos criativo. O roteiro, baseado em versos de Fernando Pessoa, mistura fragmentos de sua obra com uma interpretação visual inovadora. Em vez de um retrato linear da vida de Pessoa, o filme oferece uma visão íntima e perturbadora de sua mente fragmentada e de seus múltiplos eus.

Edgar Pêra: O mestre do cinema experimental português

Edgar Pêra é um dos cineastas mais inovadores e ousados de Portugal, com uma carreira marcada pela experimentação. Nascido em Lisboa em 1960, ele é conhecido como o “punk da imagem” e “alquimista do cinema”, misturando vanguarda, literatura e uma obsessão pela materialidade do cinema. Seus filmes, como KINORAMA – Beyond The Walls of The Real (2021) e Magnetick Pathways (2018), estão longe da fórmula convencional, explorando novas formas de expressão visual e narrativa.

Não Sou Nada é uma obra que vai além da simples adaptação de uma biografia. É uma jornada sensorial e caótica pela mente de um dos maiores poetas portugueses, onde o público é convidado a sentir a fragmentação de sua identidade e a intensidade de sua obra. Para quem busca uma experiência cinematográfica única, que desafia as convenções, este filme é uma visita obrigatória.

Pôster

Giuliano Peccilli
Giuliano Peccillihttp://www.jwave.com.br
Editor do JWave, Podcaster e Gamer nas horas vagas. Também trabalhou na Anime Do, Anime Pró, Neo Tokyo, Nintendo World e Jornal Nippon Já.

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