Nos últimos anos, os pontos quânticos deixaram de ser um conceito experimental e se tornaram peça-chave em algumas das inovações tecnológicas mais marcantes — e a Samsung teve um papel de protagonista nessa transformação. Com sua linha QLED, a marca não apenas mudou o jogo nos televisores, como também impulsionou a ciência ao ponto de contribuir para o Nobel de Química de 2023.
De acordo com o professor Taeghwan Hyeon, da Universidade Nacional de Seul, a tecnologia da Samsung teve papel determinante: “A QLED foi crucial para que os pontos quânticos ganhassem visibilidade e reconhecimento suficientes para o Nobel.” Isso só foi possível porque, desde cedo, a empresa tomou uma decisão ousada: eliminar o cádmio — um metal tóxico — e investir em uma rota sustentável, sem abrir mão da performance.
Da ciência básica aos lares: o impacto real dos pontos quânticos

Os primeiros estudos com pontos quânticos datam dos anos 1980, com os pesquisadores Aleksey Yekimov e Louis E. Brus. O grande salto veio em 1993, quando Moungi Bawendi, do MIT, desenvolveu um método confiável para sintetizá-los. Já em 2001, Hyeon inovou com o chamado “processo de aquecimento”, que eliminou a necessidade de separação por tamanho das nanopartículas — e, em 2004, apresentou ao mundo uma solução industrial viável em artigo publicado na Nature Materials.
No entanto, havia um problema: o cádmio. Embora eficiente, o elemento era altamente tóxico e regulamentado na Europa. A solução veio com o uso de fosfeto de índio (InP), mas a química era mais desafiadora, exigindo controle sintético mais preciso.

Sem cádmio e com qualidade total: o desafio assumido pela Samsung

Desde 2001, a Samsung investe pesado em alternativas ao cádmio. “Mesmo quando a legislação aceitava até 100 ppm, nós sempre seguimos com tolerância zero”, afirmou Sanghyun Sohn, do Laboratório de Display Avançado da empresa.
Esse compromisso se concretizou em 2014, quando a Samsung desenvolveu o primeiro ponto quântico comercial sem cádmio do mundo, com um revestimento triplo que garante durabilidade e evita oxidação. Um ano depois, em 2015, a empresa lançou as TVs SUHD com a nova tecnologia.
No início, os pontos quânticos à base de índio tinham desempenho 20% inferior aos de cádmio. Mas o Samsung Advanced Institute of Technology (SAIT) não descansou até equiparar esse desempenho — alcançando 100% de fidelidade de cor e mais de 10 anos de durabilidade.

O efeito dominó na ciência e na indústria

A estrutura das QLEDs da Samsung é composta por núcleo, casca e ligante — combinação que garante brilho, estabilidade e resistência. Essa precisão inspirou pesquisadores ao redor do mundo.
Segundo Doh Chang Lee, do KAIST, o lançamento das QLEDs gerou uma mudança real: “A comunidade científica passou a focar em aplicações práticas, não só em desenvolvimento teórico.” Hoje, os pontos quânticos estão sendo pesquisados também em energia solar, medicina e até computação quântica.
QD-OLED, prêmios e o reconhecimento de um Nobel

Em 2017, a Samsung apresentou ao mundo as TVs QLED. Já em 2022, foi a vez da QD-OLED — unindo OLED e pontos quânticos. O resultado? Um display premiado como o melhor do ano pela Society for Information Display (SID) em 2023.
Esse salto tecnológico foi tão relevante que os cientistas Bawendi, Brus e Yekimov foram laureados com o Prêmio Nobel de Química. E muito disso só foi possível graças à visibilidade conquistada com a industrialização promovida pela Samsung.
A jornada da Samsung com os pontos quânticos é a prova de que engenharia de ponta, aliada a escolhas éticas e visão de futuro, pode mudar tanto a indústria quanto o rumo da ciência.