A animação Nimuendajú, dirigida por Tania Anaya, é um dos grandes destaques brasileiros no circuito internacional em 2025. Selecionado para a seção Contrechamp do prestigiado Festival de Animação de Annecy, o filme também será exibido no Marché du Film do 78º Festival de Cannes — reforçando sua relevância artística e histórica.
Produzido em animação 2D, o longa retrata a vida do etnólogo alemão Curt Unckel, que chegou ao Brasil em 1903 e viveu por mais de quatro décadas entre diferentes povos indígenas. Em 1906, foi batizado pelos Guarani com o nome Nimuendajú, que significa “aquele que encontrou seu lugar no mundo”. Tornou-se um dos maiores cientistas sociais do país, documentando culturas indígenas com respeito e profundidade, ao mesmo tempo em que testemunhou e denunciou a violência sistemática contra essas comunidades.
A força da narrativa está nas cartas que Nimuendajú escrevia à irmã e ao amigo Carlos, interpretadas na dublagem pelo ator alemão Peter Ketnath (Cinema, Aspirinas e Urubus). A obra conta ainda com a participação direta de comunidades como os Apinayé, Canela Rankokamekra e Guarani, que contribuíram para a autenticidade cultural da animação.
Este é o primeiro longa de Anaya, mineira com mais de três décadas de carreira no audiovisual. Seus curtas Balançando na Gangorra e Castelos de Vento foram premiados internacionalmente, e o híbrido Ãgtux, que mistura documentário e animação, teve destaque em festivais como o de Oberhausen, na Alemanha. Atualmente, ela codirige O Filho da Puta ao lado de Otto Guerra, Sávio Leite e Érica Maradona, e desenvolve a série Palmeiras do Alto.
Distribuído internacionalmente pela O2 Play — braço de distribuição da O2 Filmes — o longa chega aos cinemas brasileiros no segundo semestre de 2025. Para Igor Kupstas, diretor da O2 Play, a estreia em Annecy é simbólica: “Era um sonho estrear neste festival, que ajudou filmes como O Menino e o Mundo a alcançarem indicações ao Oscar”.
Mais do que uma cinebiografia, Nimuendajú é um filme urgente e poético. Ao resgatar a história de um estrangeiro que defendeu os povos originários do Brasil, a animação brasileira se alinha a um movimento global de valorização das culturas indígenas e da memória histórica.