Em um movimento histórico para o audiovisual brasileiro, o Hubert Bals Fund (HBF), ligado ao Festival Internacional de Cinema de Roterdã, anunciou em Cannes uma parceria inédita com três importantes instituições do país: Spcine, RioFilme e Projeto Paradiso. A iniciativa, batizada de HBF+Brasil: Iniciativa conjunta de apoio ao desenvolvimento, marca a primeira colaboração do fundo nessa escala com organizações brasileiras e promete impulsionar até nove longas de ficção ainda em fase inicial de desenvolvimento.
Com investimento total de 90 mil euros, o projeto-piloto foi anunciado durante o Marché du Film, evento paralelo ao Festival de Cannes, onde o Brasil é o país homenageado em 2025. Cada projeto selecionado receberá 10 mil euros e o selo do HBF — chancela que pode abrir portas em festivais internacionais e atrair coproduções. A primeira edição contempla quatro projetos de cineastas paulistas, quatro do Rio de Janeiro e um de abrangência nacional. As inscrições serão abertas no segundo semestre, por meio do site do Festival de Roterdã (IFFR.com).
O objetivo do programa vai além do apoio financeiro. A proposta é fomentar narrativas brasileiras singulares, inovadoras e culturalmente relevantes, ampliando a presença do cinema nacional no circuito internacional. Para isso, a expertise do HBF será combinada aos recursos e conhecimento das instituições parceiras brasileiras — Spcine, ligada à Prefeitura de São Paulo; RioFilme, órgão da Prefeitura do Rio de Janeiro; e Projeto Paradiso, iniciativa filantrópica voltada ao fortalecimento do setor.
A seleção dos projetos ficará a cargo do próprio Hubert Bals Fund. De acordo com dados da organização, cerca de 40% dos filmes apoiados pelo fundo em sua fase de desenvolvimento acabam sendo exibidos em festivais internacionais de prestígio, o que reforça o potencial de visibilidade da iniciativa.
A relação do HBF com o Brasil não é nova. Segundo Vanja Kalujdercic, diretora do Festival de Roterdã, e Tamara Tatishvili, diretora do fundo, o país é o maior beneficiário da história do HBF, com 44 projetos apoiados e mais de 750 mil euros investidos desde sua fundação. “Cineastas como Kleber Mendonça Filho, Marcelo Gomes, Gabriel Mascaro e Julia de Simone estiveram entre os nomes que contaram com esse apoio em momentos cruciais de suas carreiras”, destacam.
Para Josephine Bourgois, diretora-executiva do Projeto Paradiso, a nova iniciativa consolida uma trajetória de cinco anos de colaboração com o HBF. “Estamos unindo forças com instituições fundamentais para dar suporte à etapa mais frágil de um filme: o desenvolvimento. Essa é uma missão central para o Paradiso desde sua criação”, afirma.
Leonardo Edde, presidente da RioFilme, também vê na parceria uma forma de reforçar a posição do Rio de Janeiro como capital criativa. “Este é um passo importante não apenas para revelar novas vozes, mas para projetar a cinematografia carioca no cenário internacional e estimular coproduções globais.”
Já Lyara Oliveira, presidente da Spcine, destaca o caráter estratégico da colaboração. “Fortalecer a indústria audiovisual de São Paulo passa por conectá-la às redes internacionais. Essa parceria com o HBF se alinha diretamente à nossa meta de internacionalização e visibilidade global”, afirma.
A criação do HBF+Brasil também dialoga com outras ações recentes do fundo no país, como a publicação Desenvolvimento de Impacto, lançada em outubro de 2024 durante a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em parceria com o Projeto Paradiso. O estudo trouxe reflexões sobre a importância dos investimentos na fase inicial de produção cinematográfica.
Com o Brasil ganhando protagonismo em Cannes, a aliança entre o Hubert Bals Fund e as três instituições nacionais sinaliza não apenas um reforço ao cinema independente, mas um novo capítulo na cooperação internacional em prol da diversidade e da inovação narrativa no audiovisual brasileiro.