O cinema brasileiro encontra novos caminhos de circulação com o Circuito Embaúba, uma proposta que aposta no poder do encontro entre filmes e plateias fora dos grandes centros urbanos. Em junho, o projeto abraça o primeiro longa-metragem de Milena Times, Ainda Não É Amanhã, e o leva por uma jornada que vai além das salas tradicionais — rumo a cineclubes, universidades, escolas e espaços culturais comprometidos com a pluralidade do audiovisual nacional.
A história acompanha Janaína (Mayara Santos), uma jovem negra de 18 anos que vive em um conjunto habitacional na periferia do Recife. Criada pela mãe (Clau Barros) e pela avó (Cláudia Conceição), ela é bolsista de Direito e tem a chance de se tornar a primeira pessoa da família a se formar no ensino superior. Mas tudo muda quando a gravidez inesperada a faz repensar seus sonhos, o passado familiar e o que significa amadurecer em um país marcado por desigualdades. Com olhar sensível e atuação potente, Ainda Não É Amanhã mergulha na complexidade de escolhas que atravessam o corpo, a história e o tempo.
O filme se torna o segundo a integrar o Circuito Embaúba, iniciativa da distribuidora mineira Embaúba Filmes, que propõe um modelo descentralizado de lançamentos. A lógica é outra: em vez de esperar o público chegar, os filmes é que saem em turnê. O circuito estimula que cada sessão seja também um momento de escuta e diálogo, promovendo debates e conversas que ampliam a experiência cinematográfica. Para isso, a distribuidora disponibiliza materiais exclusivos de apoio — com temas, referências e questões norteadoras — aos exibidores interessados.
A estreia do projeto aconteceu em maio com Lispectorante, de Renata Pinheiro, estrelado por Marcélia Cartaxo. O filme percorreu 28 municípios, entre cineclubes e instituições de ensino, e provou que existe sede por cinema brasileiro nos rincões do país. “O retorno tem sido muito positivo, sobretudo nas cidades do interior. Muitas dessas sessões contaram com rodas de conversa, algo que fortalece os vínculos entre público e obra”, afirma a equipe da Embaúba.
As sessões do circuito acontecem ao longo de até quatro semanas — uma antes e três depois da estreia comercial —, conforme cronograma combinado com cada parceiro. A adesão ao projeto exige o compromisso de exibir pelo menos metade dos filmes programados no ano e, em contrapartida, os parceiros contribuem com um relato simples pós-sessão, incluindo dados de público e registros fotográficos.
Criada em 2018 e com sede em Belo Horizonte, a Embaúba Filmes reúne um catálogo com mais de 60 obras brasileiras contemporâneas e é responsável também pela plataforma de streaming Embaúba Play, com mais de 500 títulos disponíveis online. O Circuito Embaúba é uma extensão natural desse trabalho, que aposta na circulação ativa como caminho de democratização do acesso à cultura.
Para cineclubes, escolas e salas independentes interessadas em participar, o cadastro pode ser feito por meio do formulário oficial: https://forms.gle/AyYw7iVmve5zS1Mm7. Dúvidas podem ser encaminhadas para [email protected].
