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Crítica | Plano 75 estreia nos cinemas e é visceral em mostrar um futuro nada ideal para nossa sociedade

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Numa coprodução Japão, França, Filipinas e Qatar, Plano 75 foi a indicação do governo Japonês ao Oscar. Premiado em diferentes festivais, o filme em seus primeiros minutos, toca na ferida em um dos problemas mais escancarados da sociedade japonesa que é o envelhecimento de sua população.

Com uma solução simples e imoral, Plano 75 se molda na culpa das pessoas em existirem. E esse sentimento de incômodo e que não se encaixa mais em uma sociedade, se torna uma medida proposta pelo governo em que habitantes que completarem 75 anos ou mais, poderão escolher a data de sua morte, ainda recebendo um “auxílio de 100 mil ienes (3.314,49 reais)” para utilizarem da forma que quiserem.

Simples e direto na sua mensagem, o filme trabalha uma sociedade que esse plano de contingência é aprovado e até questionado por países vizinho, mas nada muda em uma sociedade que toda uma terceira idade se questiona se deve ou não aderir a ele.

É nesse ponto que somos apresentados aos três protagonistas do filme, sendo a senhora de idade Michi Kakutani (Chieko Baishô), o funcionário do Plano 75 Hiromu Okabe (Hayato Isomura) e a filipina Maria (Stefanie Arianne). A escolha dos três protagonistas em camadas diferente da sociedade japonesa, escancaram as consequências do Plano 75, e a resposta das pessoas em torno disso.

Como se fosse uma “novela”, a trama da Michi Kakutani encabeça o filme, trazendo a história de uma senhora que perde sua moradia por chegar numa idade que proprietários não querem alugar mais, justamente por causa do Plano 75. Em busca de empregos e vendo suas amigas, adotando o plano do governo, ou falecendo por causas naturais, Michi fica numa encruzilhada, que tenta ser babá entre outros subempregos, até perceber que a maioria das portas estão fechadas. Sem escolhas, ela reluta, mas aceita entrar no Plano 75, conseguindo uma pessoa para conversar até a data de sua morte, além de uma garantia de manter um lar até a mesma data. Michi é um sinal que resistiu ao máximo contra um governo que impõe culpa as pessoas por não estarem trabalhando mais na sociedade e desequilibrando as contas do país. E suas tentativas em todo filme, apontam o seu desejo em viver, contra uma decisão que válida a sua morte por simplesmente ficar mais velha a cada ano que passa.

Paralelo a trama da Michi, temos o funcionário do governo, Hiromu Okabe, que recebe os idosos que desejam aderir ao Plano 75. O papel dele ali é incentivar as pessoas a aceitar as condições do governo, tentando ao máximo separar sua profissão da vida pessoal. Só que Hiromu não esperava que um dos idosos que iriam encontrar ali seria seu tio, e isso irá refletir numa série de decisões que vão à descoberta das empresas envolvidas. Trazendo indícios de desvios de conduta, Hiromu se questiona se seu tio deve fazer parte do Plano 75.

Por fim, temos a filipina Maria que vai ao Japão para trabalhar como cuidadora de idosos. Com seu marido e sua filha em seu país de origem, Maria precisa trabalhar no Japão, e juntar dinheiro para o tratamento da filha.

No decorrer da trama, oferecem uma chance profissional dela trabalhar na parte da morte assistida, recolhendo itens dos idosos, e nesta parte os valores morais, em troca da saúde da filha dela, são ignorados e ela troca de trabalho sem pestanejar.

Os três arcos são contados simultaneamente, em que os personagens se cruzam muitas vezes, demostrando a normalização da morte da terceira idade. Não só isso, mas escancarando o sucesso do programa, causando ainda mais rebulições em um segundo momento do filme.

Chie Hayakawa, mesmo que estreante como diretora, consegue entregar uma obra visceral, em que normaliza as soluções e foge de questionamentos. Os personagens ali, apenas aceitam os fatos e vemos o desenrolar da história, a partir deste pressuposto.

O filme é doído e principalmente doí quando você se põe ali como personagem daquele futuro. É fato que queremos um futuro melhor e não ser um estorvo de uma sociedade, mas Plano 75 soluciona o problema do nosso mundo atual, da pior maneira possível.

Diatópico, o elenco entrega demais em suas atuações, em especial Chieko Baishô como Michi Kakutani. Ela traz o sofrimento da personagem em seus olhos e impressiona numa atuação impecável. Outro destaque está no ator Hayato Isomura como Hiromu Okabe e todas as suas descobertas em torno do Plano 75, mostrando que nem tudo está perdido.

Plano 75 é certamente um filme que vale a pena ser assistido por seu exercício sobre um dos problemas que atinge diferentes países, inclusive o Brasil. Entregando um questionamento difícil de ser respondido, certamente te fará pensar em soluções melhores para um mundo melhor amanhã.

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