A Araraguaia Produções, de Barra do Garças (MT), finalizou recentemente a primeira etapa das filmagens de O Menino Que Carregava Água na Peneira, longa-metragem escrito e dirigido por Daniel Leite Almeida. Livremente inspirado na poesia de Manoel de Barros, o filme é ambientado entre o cerrado e o sertão, traçando uma narrativa sensível sobre um garoto do interior que descobre seu sonho de ser escritor e parte em busca de um nome que represente sua identidade.
Essa obra marca um importante marco no audiovisual brasileiro como o primeiro longa de ficção do Vale do Araguaia, região ainda pouco explorada pelo cinema nacional. A produção promove um intercâmbio inédito entre artistas e realizadores de Mato Grosso e do interior da Bahia, com Vitória da Conquista como cenário das primeiras gravações. O restante da filmagem será realizado em Mato Grosso, reforçando a colaboração cultural entre essas duas regiões distantes.
O Menino Que Carregava Água na Peneira dá continuidade a um universo cinematográfico iniciado em Alice dos Anjos — premiado com seis Candangos no Festival de Brasília e finalista do 22º Grande Prêmio do Cinema Brasileiro —, integrando a trilogia que inclui também Alice Lembra, filmado recentemente na Bahia. Este contexto conecta a obra a uma linhagem de cinema autoral que valoriza histórias e linguagens do interior do Brasil.
No elenco, a atriz Juliane Coelho, natural de Barra do Garças, vive Cristalina, a antagonista da trama. Com experiência no teatro, esta é sua estreia no cinema, ressaltando a importância da produção para a abertura de novas oportunidades para artistas regionais. Outro destaque é Gustavo Mendonça, 16 anos, de Cuiabá, que interpreta Olímpio, filho de Cristalina. Gustavo também atua como modelo e influencer, e destaca o intercâmbio cultural proporcionado pela experiência nas filmagens baianas.
Entre os jovens atores, Luiz Di Mônaco, 12 anos, interpreta Bernardo, um dos personagens centrais. Proveniente do Vale do Araguaia, Luiz tem no teatro uma herança familiar que inspirou sua entrada no cinema. Já o protagonista, João Pedro Costa, comenta a riqueza do convívio com profissionais de diferentes sotaques e culturas.


Por trás das câmeras, o projeto enfatiza o fortalecimento do cinema feito fora dos grandes centros. Daniel Leite Almeida, formado em Letras pela UFMT e em Cinema pela UESB, destaca que o intercâmbio entre profissionais do interior visa romper a dependência tradicional dos centros Rio-São Paulo, fortalecendo a produção local. Esse processo inclui mentorias e troca de experiências, valorizando saberes regionais.
A produtora de elenco Nathália Gonçalves, também formada na UFMT, vê o filme como uma escola prática fundamental para o crescimento profissional e para a abertura de portas para futuras produções na região do Araguaia.
O projeto foi selecionado no Edital nº 03/2023 da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso (Secel-MT), com apoio do Ministério da Cultura por meio da Lei Paulo Gustavo, sinalizando a relevância cultural e social da iniciativa.
O Menino Que Carregava Água na Peneira representa mais que um filme: é a consolidação de um cinema que dialoga com as raízes culturais, os desafios e as potências do interior brasileiro, trazendo à tona uma narrativa poética, regional e universal ao mesmo tempo.