Conhecida na China como uma das maiores franquias por lá, o Brasil começa a conhecer a franquia com o quarto filme da série, chamado Detetive Chinatown: O Mistério de 1900. Sem medo de ousar, o novo filme é um prelúdio da franquia, levando os personagens para o início do século XX, trocando as metrópoles asiáticas por uma São Francisco de outrora.
Dirigido por Chen Sicheng, também criador da série, o novo filme traz colaboração de Dai Mo, sendo uma aposta alta para a franquia.
Distribuído no Brasil pela SATO Company, o filme estreia em 15 de maio, sendo uma oportunidade de conhecer a franquia, mas, além disso, traz uma investigação divertida que se aprofunda em temas pontuais e sempre atuais, como: racismo, imigração e identidade cultural. Mesmo sendo o mais diferente de sua quadrilogia, o novo filme ainda mantém sua essência, lembrando que já arrecadou mais de 1,8 bilhão de dólares mundialmente.
Trazendo aquele gostinho de filme típico da Sessão Kickboxer Band, dos bons tempos em que passavam filmes chineses e de artes marciais toda semana na televisão, Detetive Chinatown: O Mistério de 1900 tem tudo para conquistar você.
Uma nova cara para uma franquia consagrada

Depois de passar por Bangkok, Nova York e Tóquio, o novo filme dá um passo atrás na linha do tempo, podendo ser chamado de um prequel da série. Estamos em 1900, quando Alice, a filha de um influente congressista americano, é brutalmente assassinada na Chinatown de São Francisco. O crime estoura na mídia americana como o ressurgimento de Jack, o Estripador — mas, além disso, uma versão chinesa do próprio — o que escancara os primeiros preconceitos de uma sociedade que se transforma em uma fúria pública contra os imigrantes chineses. Tamanha perseguição também vem na forma de opressão, que se transforma na Lei de Exclusão Chinesa, criando um tom crítico presente em toda a história.
Mas quem é o Detetive Chinatown? O filme não perde tempo em apresentar Qin Fu (Liu Haoran), um jovem médico tradicional chinês com impressionante capacidade dedutiva. Ele é convocado por Bai Xuanling (Chow Yun-Fat), líder da comunidade local, para provar a inocência de seu filho, Bai Zhenbang (Zhang Xincheng), principal suspeito do crime. Pra ser bem franco, Qin Fu estava em treinamento com Sherlock Holmes, que recusou o caso, jogando a bomba no colo de Qin Fu.
Todo Sherlock Holmes tem seu Watson, não é mesmo? E aqui ele é representado por Ah Gui (Wang Baoqiang), um personagem pra lá de peculiar, com ascendência indígena e chinesa (sim, você leu certo). Ele sai de sua tribo em busca de vingança pela morte de seu pai adotivo, encontrado na mesma cena do crime da filha do congressista. Mas o que os dois crimes têm em comum? O que se sabe ou pelo menos se imagina — é que ambos os crimes estejam possivelmente ligados ao mesmo assassino.
Mas você acha que todas as peças estão na mesa? Não, porque a China também irá entrar nesta briga com personagens históricos como Fei Yanggu, enviado diretamente da Dinastia Qing para capturar revolucionários como Sun Wen e Zheng Shiliang, enquanto se desenrola todo um crime de perseguição contra os chineses em São Francisco.
Trama densa, personagens carismáticos
É exatamente neste caos que Qin Fu e Ah Gui se encontram, num momento em que qualquer pessoa pode se tornar suspeita. Será que Bai Xuanling é realmente o herói como a comunidade chinesa em São Francisco o vê? E qual a verdadeira ligação de Bai Zhenbang com a primeira vítima deste misterioso assassino?
Trazendo uma narrativa repleta de reviravoltas, Qin Fu e Ah Gui se tornam uma dupla dinâmica, mas, ao mesmo tempo, estão do lado do inimigo, enquanto investigam quem é o verdadeiro assassino. E quanto mais investigam, descobrem que não há apenas um assassino — podem ser mais de um.
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Produção impecável e detalhes nos pequenos detalhes
Além de conseguir reproduzir uma São Francisco de 1900, o destaque do filme está nos pequenos detalhes de sua narrativa. Seja num bonde que os personagens pegam, estampado com Make America Great Again, numa alusão ao Trump, o filme insiste na ideia de que o preconceito do passado não só é recorrente, como ainda está bem vivo hoje.
Mas, retornando à trama: quanto mais Qin Fu e Ah Gui se tornam uma dupla, o filme caminha para seus momentos finais, e se descobre que Alice namorava às escondidas Bai Zhenbang e que ambos pretendiam fugir para a Europa antes de sua morte.
Encurralado e acusado injustamente, Bai Zhenbang acaba morto, num crime orquestrado para expulsar a comunidade chinesa, enquanto se encobria um assassinato na mansão do congressista Grant (John Cusack), que matou a própria filha.
Como se muda uma opinião pública? E será que Bai Xuanling conseguirá se salvar de crimes por tentar criar mecanismos de defesa para si e seu povo contra a perseguição americana? São pontos em que o filme deixa o humor de lado para tocar na ferida e fazer uma crítica à sociedade da época.
Visual arrebatador
O que chama atenção em Detetive Chinatown: O Mistério de 1900 são seus cenários, que enfrentam o desafio de recriar uma São Francisco de 1900 — e muitas vezes nos fazem questionar se o filme foi mesmo filmado no Ocidente. A perfeição dos detalhes, em especial do bairro de Chinatown, mostra um cuidado que vai além das construções, passando por lanternas vermelhas, transportes e trajes de época.
Vale a pena assistir?
Um dos motivos que sempre valem a pena para ir ao cinema é assistir a um filme com Chow Yun-Fat, e aqui, mesmo se tornando secundário ao interpretar o lendário Bai Xuanling, ele apresenta toda uma nova geração de atores que vale a pena acompanhar.
Mesmo que a franquia Detetive Chinatown seja inédita no Brasil, seu toque de comédia em meio a investigações é a grande graça aqui. A dupla Ah Gui e Qin Fu funciona muito bem, e você vai querer ver mais e mais deles em cena. É fato que este seja o filme mais sombrio da franquia, mas ainda assim repete e ecoa o bom humor presente nos filmes anteriores.
Mas precisa ver os filmes anteriores? Não. Por mais que o filme homenageie e traga referências para quem viu os anteriores, Detetive Chinatown: O Mistério de 1900 é um filme que se fecha em si mesmo e funciona de maneira única. Talvez seu sucesso até incentive a vinda dos outros filmes da série por aqui.
Trazendo um roteiro afiado, um elenco espetacular e uma história bem cirúrgica ao ecoar o passado e mostrar que hoje não somos tão diferentes assim, Detetive Chinatown: O Mistério de 1900 é um filme para ser visto nos cinemas.
Se você gosta de detetives como Hercule Poirot e Sherlock Holmes, pode ter certeza que Detetive Chinatown: O Mistério de 1900 é um filme pra você. Evocando uma época em que os chineses contribuíram para as ferrovias americanas, o filme não só diverte, mas também mostra uma parte da história sobre a qual pouco se fala por aí.
Trailer
Nota: 4,5 (de 5)
Detetive Chinatown: O Mistério de 1900
ELENCO
Wang Baoqiang – Ah Gui/Fantasma
Liu Haoran – Qin Fu
Chow Yun-Fat – Bai Xuanling
White-K – Zheng Shiliang
Zhang Xincheng – Bai Zhenbang
Yue Yunpeng – Yanggu
John Cusack – Grant
Tai Bo – Tio Si
FICHA TÉCNICA
Direção: Chen Sicheng, Dai Mo
Roteiro: Chen Sicheng
Produção: Chen Sicheng
Fotografia: Du Jie
Montagem: Tang Hongjia
Música: Nathan Wang
País e ano de produção: China, 2025
Duração: 135 minutos
Distribuição no Brasil: SATO Company
Agradecimentos a SATO Company e a Sinny pelo convite para produção deste conteúdo